Universidades: uma greve a cada dois anos

30/04/2024 00:16 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Estava no primeiro semestre do curso de Jornalismo, lá na década de 80 do século passado, quando estourou uma greve de professores e demais funcionários da Ufal. A paralisação chegou a 44 dias, entre os meses de março e maio. Uma frustração para quem começava a investigar os meandros da Escola de Frankfurt e a relação entre meio e mensagem segundo McLuhan. Longe da sala de aula e dos debates semióticos.

No começo do terceiro ano, nova ação grevista teria duração ainda maior, com 66 dias sem atividade no campus da universidade. Até ali eu não sabia, mas aquele quadro viria compor uma longa tradição. De 1980 para cá, foram 21 greves – ou seja, média de uma a cada dois anos. A de 1991, ultrapassou pela primeira vez a barreira dos três meses de paralisação. Foram precisamente 107 dias com professores parados.

Os anos seguintes registraram outros períodos com greves que se esticaram por mais de 100 dias. Em 1998, foram 103 dias de portões fechados para aulas. Em 2001, mais 108. Em 2005, outros 112. Em 2015, veio a mais longa de todas as greves, com 139 dias sem trabalho nas unidades federais de ensino. A última paralisação, antes da atual, foi em 2016, quando a categoria queria barrar a PEC do teto de gastos. Perdeu. Durou 26 dias.  

Você deve ter percebido um dado curioso: nunca houve um intervalo tão dilatado entre uma greve e outra como agora. Os professores e outras categorias universitárias não pararam os trabalhos no governo Bolsonaro. Pode parecer estranho, mas as entidades têm explicação que julgam óbvia. Uma greve no desgoverno do capitão daria mais um pretexto para a política de terra arrasada imposta às universidades naquele período.

Faz sentido. Afora isso daí, será mesmo que, com uma greve a cada 24 meses, as coisas melhoraram no ensino superior? Tenho dúvidas. Em todas as ocasiões, o governo não cedeu em praticamente nada quanto às reivindicações. As exigências de reajuste salarial foram sempre atendidas bem abaixo do pretendido. Outros pontos cobrados, como investimento em infraestrutura e ações pedagógicas, são ainda mais ignorados.

Os dados citados aqui estão em sites das entidades sindicais de docentes e servidores das universidades. A paralisação atual começou em dois de abril, mas cresceu a partir do dia 15. O movimento conta com a adesão dos professores dos Institutos Federais. As categorias classificam a postura do governo como “decepcionante” – e chamam de “ofensiva” a proposta de reajuste oferecida. Por enquanto, nada de acordo.

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