José Sarney e o fim da polarização

26/04/2024 13:52 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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José Sarney completou 94 anos de idade e deu uma festa em Brasília. O evento reuniu o topo da República, com representantes dos três poderes na mansão do ex-presidente. Por lá estiveram Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e Arthur Lira, comandante da Câmara. Lula não pôde ir, mas fez questão de telefonar para render homenagens ao velho amigo. Mais do que um encontro de aniversário, foi uma celebração da política.

Segundo relatos na imprensa, ao menos dez ministros do governo federal prestigiaram a festa. Fernando Haddad, Alexandre Padilha e José Múcio estavam entre eles. Geraldo Alckimin, o vice-presidente que também é ministro, foi abraçar o aniversariante. Bruno Dantas, presidente do TCU, bateu ponto nas homenagens. Três ministros do STF – Flávio Dino, Kassio Nunes e Cristiano Zanin – foram comer um pedaço do bolo.

Inimigo mortal da família Sarney durante décadas, Dino cumprimentou o anfitrião assim: “Eu desejo tudo de bom para o senhor, viu? Na festa de cem anos dele vai haver 20 mil pessoas”. Foi uma ode à camaradagem da política. Governo e oposição trocaram figurinhas na maior descontração. Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Aécio Neves estavam à vontade entre sorrisos, drinques e abraços efusivos.

Sarney está na política há sete décadas, fez carreira num dos estados mais pobres do Brasil e apoiou a ditadura sem ressalvas. Num lance do destino, virou o presidente que inauguraria a redemocratização, após fechar aliança com o MDB de Tancredo Neves. É o símbolo do caos na vida brasileira na segunda metade dos anos 1980. Ele chegou a ser alvo de pedradas num carro oficial. Hiperinflação e corrupção resumem seu governo.

Bem antes de tudo isso, ele assumiu o primeiro mandato como governador do Maranhão, em 1966. Trabalhando sob encomenda, o maior cineasta brasileiro registra o discurso de posse. Visto hoje, o curta Maranhão 66 (foto), de Glauber Rocha, parece cada vez mais perturbador. O jovem Sarney promete o céu na terra. Para ele deu tudo certo. Imortal da ABL, venceu até a onipresente polarização da política contemporânea.

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