Um homem público no fundo do poço. Após sucessivos fracassos, aos 66 anos, Ciro Gomes trabalha com afinco para emporcalhar a própria biografia. Não é de agora. Nas campanhas presidenciais de 2018 e 2022, o cearense que nasceu em São Paulo deu mostras de seu caráter de baixa qualidade. No desespero para ser a alternativa da esquerda, agiu como um trânsfuga que atirava para todos os lados.

Diante da ameaça autoritária de Bolsonaro, preferiu atacar Lula e o PT, de olho no voto reacionário do campo oposto. Na atuação oportunista, reproduziu o mesmo discurso da extrema direita, recorrendo a acusações cujas bases estavam na quadrilha conhecida como Lava Jato. No desfecho da disputa de 2018, protagonizou o bizarro espetáculo de se refugiar em Paris após o primeiro turno. Sua omissão foi criminosa.

Depois da posse de Lula no atual mandato, a cada semana Ciro ataca o presidente e anuncia escândalos sobre o nada. Em seu canal no YouTube, ele ignora números da recuperação do país e profetiza o caos na economia. Na tarefa de denunciar o “desastre” do governo, rivaliza com Paulo Guedes – aquele que apontou o absurdo das empregadas domésticas viajarem de avião. Mas tudo isso é pouco.

Ciro pegou um atalho para visitar o lamaçal. Pela segunda vez em três semanas, ele agride a senadora Janaína Farias, do PT cearense. Primeiro, disse que ela “cuidava do harém” do ministro da Educação, Camilo Santana, também do Ceará. Nesta quinta-feira, chamou a parlamentar de “cortesã”. Nas duas ocasiões, ele se demora em desfiar termos do repertório torpe contra uma mulher. A pose canalha completa a repugnância.

Além de mover um processo contra o político decadente, em nota a senadora foi ao ponto sobre o padrão moral de seu agressor. “Uma figura desqualificada me ataca de forma covarde mais uma vez”, diz Janaína. E completa: “Que esse covarde, misógino, não trate as mulheres como um subproduto, como sempre fez”. Em poucas palavras, não poderia haver melhor resumo sobre o comportamento do lixo reincidente.

Sim, as canalhices de agora não vieram do nada, não podem ser tratadas como um ponto fora da curva na trajetória deste senhor. Em 2002, em outra aventura eleitoral fracassada, ele explicou o papel que sua então companheira, Patrícia Pilar, teria na campanha: “A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo”. Tendências, inclinações, traços de personalidade – isso aí não muda nunca.