Deus no comando e teocracia miliciana

23/04/2024 13:48 - Blog do Celio Gomes
Por redação
Image

Nunca antes na história deste país a religião serviu a um projeto político como nos dias atuais. O bolsonarismo trouxe para a vida pública algo até então inédito por essas bandas. Nas duas manifestações convocadas por Bolsonaro, a estratégia foi destaque no palanque e nos discursos. O ponto alto desse falatório fica por conta do mercador Silas Malafaia e da senhora Michele Bolsonaro. Deus é vítima de apropriação cultural indevida.

Somos uma democracia republicana num Estado laico, embora a Constituição assinale sua promulgação sob as bênçãos do Senhor. Ainda assim, sempre prevaleceu o acordo tácito pelo qual um governo não pode agir em nome desta ou daquela manifestação religiosa. O veto também está previsto em lei. A ascensão da extrema direita, no entanto, inaugurou o panorama que aí está. Desde a campanha de 2018, a ideia se fortalece.

Historicamente, em todas as eleições vimos os candidatos passarem pelas igrejas e se deixarem fotografar em momentos de oração. Mas ninguém levava isso a sério. Tudo não passava de mais um momento de folclore eleitoreiro. Com Bolsonaro, a crença religiosa ganhou o status de ativo político pra valer. Sem surpresa, claro, o cristianismo é o campo explorado pelos charlatães da hora. A investida vai continuar ainda mais forte.

Para lembrar o óbvio, o slogan do capitão foi repetido ao longo de toda a campanha, seguiu no governo e se mantém no centro da retórica. “Deus, pátria, família e liberdade”. A construção está nos cartazes e nos berros dos que elegeram o “mito” como seu representante. Fator de engajamento e mobilização, o tom messiânico embala as multidões que se enrolam na bandeira do país. Bolsonaro é “o escolhido” para nos salvar.

A personagem que mais ilustra esse caminho errado é a ex-primeira-dama. A mensagem vem coreografada em pinotes e falas incompreensíveis. O exotismo da performance apareceu em 2021, quando ela comemorou a indicação de André Mendonça – o terrivelmente evangélico – para o STF. Nos atos em São Paulo e no Rio de Janeiro, Michele repetiu o teatro. A presepada segue um método que serve à politicagem.

Era o que faltava a este Brasil do coqueiro que dá coco. Alguns analistas já enxergam a pregação por uma “teocracia miliciana”. Seria um governo alicerçado no fanatismo religioso combinado a milícias subsidiadas pelo Estado. Parece pesadelo? Para quem zela por um pouco de razão, é claro que sim. Mas pense bem: a turba que segue o líder como um enviado dos céus topa tudo. Como chegamos a esse buraco? Só Deus sabe.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..