Ameaças de morte “tiradas de contexto”

22/04/2024 00:16 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Um ex-deputado estadual faz ameaças de morte à família de um ex-prefeito no interior de Alagoas. Num áudio enviado para seus desafetos, os termos são bastante claros, o que certamente assustaria qualquer um. O autor da mensagem anuncia o que pretende fazer sem meias palavras. “Eu mato você, sua mulher e todos os seus filhos”, começa Dudu Albuquerque (foto) se referindo a Marcos Santos, de quem já foi parceiro eleitoral.

O político explica o poder de fogo contra o agora adversário: “É porque você nunca levou uma lapada de uma pistola boa, uma Ponto-45. Nós vamos trocar tiro aí, se você tiver coragem, seu vagabundo... Eu ando só com duas maquinazinhas dentro do carro. Agora, se pegar, meu amigo, você mais nunca fica em pé. Aqui só sai Ponto-45. Dar um tiro na sua testa, o miolo esmolece”. O caso veio à tona neste fim de semana.

Com a repercussão, Albuquerque divulgou uma nota para se explicar. Não nega a autoria das mensagens, mas faz uma ressalva que já é um clássico dos nossos dias. Segundo ele, “todos os áudios divulgados foram tirados de contexto por interesse político do ex-prefeito...”. Na mesma nota, ele fala em “reagir a toda e qualquer tentativa” contra sua pessoa. E afirma que agiria “resguardado pela exclusão de ilicitude e legítima defesa”.    

O episódio me deu três novas informações. A primeira é que Dudu Albuquerque ainda existe. A segunda é que seu filho Breno Albuquerque está no segundo mandato de deputado estadual. E a terceira é que a política da velha Alagoas segue firme nas quebradas, mais resiliente do que se imagina. Bravata numa hora de pouca sobriedade? Talvez. Mas isso não ameniza a gravidade dos fatos, que precisam ser esclarecidos.

Volto ao ponto da linguagem que apela para o “fora de contexto”. É a alegação de defesa mais citada na história recente do Brasil. O valente das redes diz que vai arrancar a cabeça de um ministro ou do presidente da República. Capturado, advinha qual será a explicação? Do general Heleno ao deputado André Janones, de Bolsonaro a Carlinhos Maia, todo fanfarrão recorre a esse ectoplasma da retórica. É quase a confissão de culpa.

Não estou dizendo que Albuquerque seja culpado de algum crime. Isso aqui é uma análise do discurso – como se falava nas aulas de Teoria da Comunicação. Somente uma investigação pode elucidar os fatos, se é que haverá alguma. Se houver, as partes devem ser ouvidas pelas devidas autoridades. Num processo legal, cada um apresenta sua versão, e um inquérito avalia circunstâncias, detalhes e, naturalmente, o real contexto.

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