Jair Bolsonaro e o cara da OAB

17/04/2024 00:14 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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“A OAB mudou. Tem uma pessoa lá que a gente vê com bastante alegria. Um cara que fugiu daquela história de OAB de antigamente ser um partido político. A OAB tem a sua participação, hoje em dia, que vai ser importantíssima pra gente”. Essas palavras são de Jair Bolsonaro naquela reunião de julho de 2022. Revelado em fevereiro deste ano, o encontro com ministros expõe a trama golpista que estava em andamento. Não há margem de dúvida sobre as intenções do então presidente.  

Em dado momento da reunião, Bolsonaro cobra a atuação firme de seus capachos na articulação para agredir as instituições. Ele especula sobre a possível publicação de uma nota com ataques ao TSE. O objetivo seria desacreditar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas. No embalo, o miliciano do Planalto cita uma entidade que julga parceira em sua investida criminosa. Sim, nas palavras do golpista, a gloriosa Ordem dos Advogados do Brasil assinaria o manifesto detonando o TSE e as urnas.

Nos termos singelos do larápio de joias, tem um cara na OAB que ele vê “com bastante alegria”. Mais que isso, acrescenta, a entidade seria “importantíssima” para seus propósitos. Mas afinal de contas quem é “o cara” de Bolsonaro na velha Ordem? Ninguém menos que o próprio presidente, Beto Simonetti (foto). Quando o vídeo da reunião veio a público, o mandachuva da advocacia se apressou em informar que tem alma democrática.

O estrago na biografia do rapaz, no entanto, é irreparável. Por que Bolsonaro se referiu a ele com aquela saliência? Parece claro que havia uma afinidade de pensamento entre os dois. Há outro indício significativo da parceria. Também em 2022, a OAB se negou a assinar a carta em defesa da democracia, lançada pela Faculdade de Direito da USP. Em poucos dias, já havia mais de um milhão de assinaturas. Menos a de Simonetti, porque, segundo ele, a OAB é “apartidária”. Ah, bom!

Hoje em dia, Beto, o cara sem partido, está na linha de frente de uma campanha contra o ministro Alexandre de Moraes. Durante um evento em que atacava o STF, ouviu um arruaceiro da plateia gritar “fora Alexandre de Moraes”. Simonetti respondeu: “Chegaremos lá”. Depois, com a firmeza típica dos apartidários, disse que foi um mal-entendido. Essa postura de doutores da OAB tem um precedente infame. Em 1964, a entidade apoiou o golpe com entusiasmo. Temia a “infiltração comunista”.

Quando um dos lados da disputa política articula um golpe contra o regime democrático, “apartidarismo” é disfarce para adesismo ou covardia. Ou os dois. A atual gestão da OAB fala grosso com o STF, mas foi mansa diante das inúmeras demonstrações de autoritarismo do chefe do Executivo. A seccional alagoana foi na mesma toada. A valentia da entidade não falha na defesa do corporativismo. Mas, com o golpista Bolsonaro, prevaleceu uma inquietante camaradagem.

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