Bastidores, vazamento e fonte secreta

15/04/2024 14:23 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Jornalistas têm fontes secretas de informação. Ou pelo menos dizem que têm. Fonte é alguém que revela detalhes de uma história que vai bater na imprensa. É comum aparecer no meio de notícias este enunciado: “Uma fonte, que prefere não ser identificada, contou isso e aquilo sobre...”. É claro que esta é uma operação delicada, que pode virar uma armadilha para o profissional e o veículo que publica a reportagem.

Se o relato for desmentido pelos fatos, como é que fica? As maiores confusões ocorrem quando um caso envolve denúncias contra autoridades públicas. Não é incomum que jornalistas sejam pressionados a revelar a origem das informações que recebem “em off”. Ele não é obrigado a fazer isso, é claro, porque o sigilo da fonte é uma garantia constitucional. Um pilar da democracia.

O jornalismo político é uma usina de notícias com base em dados de origem desconhecida. Foi o que ocorreu agora, com o ataque de fúria do presidente da Câmara, Arthur Lira, contra o ministro Alexandre Padilha. A grande imprensa noticiou que o alagoano atuou para liberar o deputado Chiquinho Brazão, preso sob a acusação de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco. Ele nega e atribui a versão ao ministro. A suspeita ficou pairando no ar. 

Também é comum você se deparar com revelações acerca de uma investigação que corre em segredo de Justiça. Nesses casos, estamos diante do clássico vazamento de informações que não poderiam ser divulgadas por meios oficiais. Em situações assim, é provável que aquele que vazou o que não poderia vazar tenha algum interesse na publicidade dos fatos. 

A Lava Jato não inventou a traquinagem, mas o chamado “vazamento seletivo” atingiu o estado da arte durante a operação. Promotores passavam para repórteres trechos cuidadosamente escolhidos de delações protegidas pelo sigilo. Aqui estamos diante de um crime grave – quase nunca esclarecido e, portanto, jamais punido como deveria ser. Pior: o criminoso é um agente da lei.

Na mesma família da fonte misteriosa e do vazamento estão os bastidores. Com frequência pouco saudável, passamos adiante um acontecimento com essa origem obscura. O abuso de tais recursos não faz bem à imprensa. Muitas vezes, a forçada de barra é indisfarçável e até constrangedora. O resultado é a desidratação da credibilidade profissional – um golpe mortal no jornalismo.

Apurar com rigor antes de publicar é a regra básica. Quando não se pode revelar as fontes, os cuidados devem ser redobrados. O trabalho de produzir e publicar notícia nunca esteve livre de controvérsia. Com as redes sociais, os algorítimos e o desejo insano de tudo viralizar, aí até parece que estamos numa guerra perdida.

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