Reinaldo Azevedo: a guinada que sacudiu a direita, a esquerda e a imprensa

14/04/2024 12:15 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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O que se passou na imprensa brasileira na última década não tem precedentes. A combinação de antipetismo e Lava Jato provocou um terremoto de dimensões inéditas e consequências a perder de vista. A concorrência natural entre veículos e profissionais virou uma carnificina. O plantel de bagaceiras é matéria-prima para ensaios, dissertações e teses em variados campos das ciências sociais. É só escolher.

Para ficar num único recorte, trato aqui de um grupo e seu dissidente inesperado. Um episódio que rende mágoas, feridas expostas e adesão a um ex-inimigo. Ataques, gritaria, infâmias, “assassinato de reputações”, demissões – tem de tudo e mais um pouco entre uma reportagem e uma entrevista exclusiva. Como em todas as tramas de respeito, o trágico e a comédia se misturam nos microfones, teclados, artigos e colunas. 

A atuação pavorosa de estrelas do jornalismo expôs, como nunca, os métodos típicos de uma milícia numa terra sei lei. Alguns dos pistoleiros que cruzaram a linha da barbárie foram estes: Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Mário Sabino, Alexandre Garcia, Eurípides Alcântara, Carlos Sardenberg, Merval Pereira, José Roberto Guzzo e Felipe Moura Brasil. É a tropa de choque porta-voz da extrema direita.

Desse time, quatro deles, de tão desvairados na pregação ultrarreacionária, conseguiram a façanha de incomodar até a Veja. Sem conseguir, repare bem, conter seus próprios jagunços, a direção da revista decidiu pela demissão do quarteto. Nunes, Guzzo, Mainardi e Sabino seguem em ação em diferentes espaços, com o mesmo fanatismo. 

Mas nenhum personagem desse épico brasileiro se compara a Reinaldo Azevedo (foto). Merece um estudo de caso particular. Até um dia desses não havia ninguém mais admirado entre conservadores, liberais, direitistas. O cara foi guru, ídolo e modelo irretocável para inimigos do PT e da esquerda em geral. Azevedo era reverenciado no agronegócio e no mercado, entre armamentistas e negacionistas da crise climática, nos quartéis e nas igrejas.

Hoje está do outro lado. A virada começou com a Lava Jato. O jornalista foi, desde a origem da operação, um crítico aos métodos de Sérgio Moro e sua gang de Curitiba. Estava certo. Ao contrário de sua turma, que aderiu bovinamente à vulgaridade de juiz e promotores, Azevedo apontou as ilegalidades em série praticadas pela operação. 

A guinada não ficou por aí. O autor de O País dos Petralhas (um título autoexplicativo) passou a defender as teses que, durante anos, atacou de modo implacável. Batia em Lula e no PT todo santo dia, recorrendo muitas vezes à retórica repugnante, sem qualquer fundamento factual. Tratava como lixo ideias e pessoas das quais discordava. Não à toa a esquerda se referia a ele com ojeriza. A verdade é essa. 

Atuando no UOL e no grupo Bandeirantes, assina uma coluna e comanda um dos programas mais influentes no rádio e na TV. No Youtube, toca o podcast Reconversa, sucesso de audiência. Já recebeu Guilherme Boulos, Érika Hilton e Celso Amorim. O último entrevistado foi ninguém menos que José Dirceu. Sim, eu disse José Dirceu! 

Antes disso, já havia entrevistado o próprio Lula duas vezes, primeiro em 2021, quando o petista estava na pré-campanha, e depois na Presidência da República. Como dois velhos camaradas, lembraram causos e trocaram elogios. Aquela turma de ex-amigos gostaria ver o jornalista numa cova. E lulistas e esquerdistas vão erguer uma estátua de Reinaldo Azevedo. A vida é muito louca.

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