A declaração de Lula sobre a guerra entre Israel e o Hamas diz mais sobre o que ele não sabe do que sobre o que ele sabe.

A comparação feita pelo presidente, da guerra atual com o holocausto, é tosca e apenas raivosa, embora já a tenha ouvido de muita gente de boa formação cultural/intelectual/humanística.

É mais um julgamento político – sempre o mais pobre – do que histórico ou similar, revelando uma ignorância injustificável.

Vamos lá: qualquer um de nós poderia fazer essa fala, equivocada e estúpida, numa conversa informal com conhecidos ou familiares (embora eu discorde inteiramente dela); mas não Lula, o presidente do Brasil, o líder político que tinha a pretensão de ser um negociador internacional da paz.

Ele não é um homem comum, como qualquer um de nós, e deve entender o seu papel sempre que abrir a boca em público.

O que Lula fez, agora, foi dar mais discurso e sobrevida política a Benjamin Netanyahu e seu governo, já apontados como corruptos pelo seu próprio povo.

Deixo claro, também, que o governo de Israel, de extrema-direita, está cometendo, em minha opinião, crimes hediondos, repetindo em maior escala o que o Hamas fez com judeus, moradores de Israel. 

E não é só uma questão de quantidade: tem números e tem modus operandi que não podem ser ignorados por qualquer um que mantenha em dia sua empatia.

Quanto a nós, inclusive as pessoas comuns, não podemos manifestar solidariedade sincera apenas parcialmente – ou ela é verdadeira ou será pura hipocrisia. 

Já a aniquilação dos judeus pelos nazistas, esta é uma verdade histórica inquestionável, abominável e também não comparável aos eventos cruéis e criminosos de agora ou a quaisquer outros de tempos pretéritos.

Não por acaso, os organismos internacionais só consideram três genocídios históricos: dos armênios (pelos turcos), dos tutsis (pelos hutus de Ruanda) e dos judeus europeus (pelos alemães, principalmente).

Poderia haver mais?

Até sim, se considerarmos a aniquilação dos povos originários, do Brasil e de outras colônias, e dos negros africanos escravizados em vários continentes. Acho até que essa discussão, acadêmica, que se arrasta há décadas, bem que poderia ter um desfecho objetivo e positivo para as vítimas.

É uma pena que, por esses dias, de tanta ignorância e sofreguidão estúpida, alguém criticar o governo de Israel pelos crimes cometidos – e estão sendo cometidos – seja entendido (?) como apoiar o Hamas. 

Nada disso.

Para encerrar, deixo aqui uma afirmação da minha repulsa aos antissemitas, no Brasil e no resto do mundo – principalmente na Europa e nos EUA -, apontando algumas das minhas melhores referências - judeus/judias de tempos e origens diversos: Chaplin, Einstein, Hobsbawm, Carl Sagan, Philip Roth, Hannah Arendt e tantos outros admiráveis personagens humanos.

Agora, cá para nós, não dá para comparar Lula, um humanista, que comete erros graves na sua fala, criando crises desnecessárias, com Bolsonaro, um iracundo negacionista, amante das armas e que, em 2017, disse de si próprio:

- A minha especialidade é matar, não é curar ninguém.