Eu me tornei jornalista quase que por exclusão, ao avaliar as profissões que eu imaginava poder exercer com alguma dignidade. Com o tempo, porém, fui me afeiçoando ao meu trabalho, e já se vão 44 anos desde que essa história começou.

Deixo claro que creio haver até alguma vantagem em não acreditar na sorte - apenas no acaso: automaticamente, também não acredito em azar.

Quando anunciei a minha aposentadoria, em 2021, minha ideia de fato era me dedicar exclusivamente aos netos e ao ócio – se possível, criativo -, mas terminei me rendendo aos empurrões que durante quase seis meses fui recebendo de amigos e desconhecidos; cobranças que chegavam a um "desafio moral" bem engendrado.

É claro que já não tenho os mesmos compromissos e horários que tinha antes de chegar aqui ao Cadaminuto, mas como não consigo fazer nada sem me envolver com veemência, a atividade jornalística, paulatinamente, foi me exigindo mais e mais esforço físico e mental - até acima do que imaginava.

O meu senso de responsabilidade e de disciplina - talvez as minhas únicas qualidades - me obrigam a levar a sério, ainda que com algum humor, o que continua sendo o meu trabalho. E veio algo além do blog este ano, o segundo aqui no CM: Carlinhos, editor e diretor da empresa, terminou me convencendo a tentar uma nova experiência – o CMCAST –, que ainda ando aprendendo a fazer, buscando entender a linguagem do meio, tentando criar o meu jeito de fazê-lo (em parceria com ele), como sempre aconteceu em qualquer outro veículo onde exerci minha profissão. 

Entendo que, independentemente do meio e do lugar – rádio, televisão, jornal, internet -, eu sou e serei sempre jornalista. Até porque não tenho mais tempo de ser outra coisa. 

Confesso que, e imagino que não seja saudosismo, constato dolorosamente uma queda de nível intelectual e, principalmente, político dos personagens com que lido no dia a dia, por esses tempos. E aí vai se firmando, cada vez mais, uma máxima que aprendi com o comentarista político Villas-Bôas Corrêa, morto em 2016: jornalistas e políticos podem estar juntos, mas não podem se misturar - são como água e óleo.

Lembro, no momento em que rascunho estas linhas, já movido pelo cansaço do final de jornada, de alguns poderosos locais que se referem à profissão deles (que pode sim ser nobre) como “a minha política”. 

E dói constatar essa indigência com que encaram a sua lida, exercida principalmente, no plano local, por coronéis sem urbanidade do ramo. Fato inegável: eis uma seara que tem atraído tipos que, na média, que não normalizaríamos e nem aceitaríamos sem alguma resistência - e não faz muito tempo. Hoje eles se espalharam pelos poderes, e tão somente aqueles que os colocaram onde estão (ou seja: nós) poderão virar o jogo. Mas só quando decidirem fazê-lo de verdade.

Fecho o ano com uma convicção reafirmada ao longo de décadas: trabalho - também - porque gosto, e paro porque preciso.

Volto quando fevereiro chegar.