Um mergulho duplo, para dentro e para fora, é a imagem que melhor explica o que eu senti na gravação do segundo episódio da Rota Cultural, já disponível no Youtube e também nas minhas redes sociais. Como vocês já sabem, o meu novo projeto está percorrendo roteiros pelo nosso estado, revelando paisagens, contando a história de personagens e propondo um mapeamento da nossa cultura e das nossas tradições a partir de uma curadoria baseada nas minhas próprias experiências. 

No primeiro episódio, vocês viajaram comigo até Piranhas, cidade onde minha trajetória pessoal e da vida pública se confundem numa mistura de emoção e orgulho que muito me honram. Nesta semana, a memória afetiva continua me acompanhando em um passeio cheio de significados a Delmiro Gouveia. O mergulho para dentro, não sei se todos sabem, se deu quando reencontrei a cidade da minha primeira infância. 

É isso mesmo! Apesar de nascida em Maceió, com raízes profundas em Piranhas, fui morar em Delmiro com meus pais ainda bebê, o que transformou a cidade no cenário dos meus primeiros passos e onde ensaiei as minhas primeiras palavras. Foi também onde convivi com coleguinhas dessa fase da vida que nos marca tanto, mesmo que depois surjam outros caminhos, outras possibilidades.

O mergulho para fora se deu ao encontrar um destino turístico pulsante, uma cidade onde a arte e o artesanato nos permite conhecer pessoas como o Mestre Elias, que me contou sua história inusitada. Aos 50 anos, depois de uma desilusão amorosa, ele se reinventa a partir da criatividade. Sem recursos para comprar material, busca no lixo o insumo para transformar aquilo que foi descartado em arte.

Ele me contou que nem sabia o que era artesanato. Mas resolveu arriscar e, dessa forma, renasceu. Como não tinha maiores referências do ofício, diz que não copia ninguém, E talvez essa seja a explicação do seu sucesso como artesão. Com um talento genuíno, ele mostra que nunca é tarde para recomeçar, dar a volta por cima e ganhar o respeito da cidade.

Como todos vocês já sabem, sou uma apaixonada pela arte alagoana, da mesma forma que me encanto com a história da nossa terra. No Museu Regional de Delmiro Gouveia, passado e presente se misturam dando vida a uma memória que conta muito do desenvolvimento econômico e social do Sertão de Alagoas. 

A partir da cultura do algodão, do aproveitamento da água do São Francisco para gerar energia e muita força de vontade, o pioneiro cearense Delmiro Gouveia revolucionou a região e deixou um legado sem precedentes na cidade que fundou. Vale a pena conhecer o museu e se encantar ainda mais com seu acervo.

No segundo episódio da nossa Rota, ainda deu tempo de conhecer uma iguaria que faz a fama entre os turistas que visitam o meu amado Sertão: provei o inusitado sorvete frito de rapadura, em Água Branca. Há 16 anos em funcionamento, o restaurante do Engenho São Lourenço é um dos mais procurados por quem visita a região dos Cânions, com uma gastronomia de dar água na boca. O sorvete fecha com chave de ouro um cardápio super especial.

Mas o roteiro não poderia deixar de fora uma das paisagens naturais mais curiosas do nosso rico interior do estado. No assentamento Lameirão, segui a trilha que me levou a formações rochosas onde foram gravadas pinturas rupestres que têm entre 3 mil e 5 mil anos de existência. Elas são a prova material da presença humana na nossa pré-história, registros da nossa ancestralidade.

Para conhecer esse verdadeiro tesouro, o grupo Veredas da Caatinga vem trabalhando há oito anos com o turismo rural. Além das inscrições rupestres, os guias aproveitam a incrível paisagem para chamar atenção sobre a importância de preservar o ecossistema da caatinga, trazendo muita informação e conscientização. A natureza agradece.

Espero que todos assistam o segundo episódio dessa série que quer revelar novos olhares sobre Alagoas, ampliando opções de roteiros e apresentando nossa gente, nosso jeito de falar, de comer, de se relacionar com o meio ambiente. Afinal, tudo isso forma a nossa cultura, o nosso pertencimento, a nossa alagoanidade.