Os casos de assédio, importunação, constrangimento, preconceito e violência contra as mulheres não são uma novidade no Brasil e no mundo. O chamado machismo estrutural, cuja base é uma cultura que defende a supremacia do homem e usa artifícios sociais e políticos para oprimir a mulher, domina grande parte das relações humanas e precisa ser combatido com informação e luta.
Quem acompanha as minhas redes sociais já entendeu que, sempre que for necessário, vou repercutir notícias e expressar minha opinião. Eu sou mulher, sou mãe, exerço um cargo na gestão pública estadual e estou na carreira política desde muito jovem. No meu lugar de fala, sem dúvida privilegiado, posso representar muitas pessoas que ainda não são ouvidas.
Não podemos permitir o silenciamento e a arrogância, que tentam destruir a fé em nós mesmas, na nossa inteligência e capacidade de ressignificar a ideia de participação ativa seja na política, na cultura, no mundo do trabalho ou dentro de casa, junto à família. Somos mais da metade da população do Brasil, a maioria dos que votam e, no entanto, ainda somos minorias nos cargos elegíveis, nos municípios, nos estados e na federação.
E quando somos eleitas, ficamos à mercê de situações absurdas, como a sofrida pela deputada Isa Penna, de São Paulo, constrangida e importunada por um colega homem, na frente de um plenário inteiro, testemunhas de um horror imposto a ela em pleno exercício do seu mandato. Como disse em postagem nas redes durante a semana, é necessário que crimes assim sejam punidos exemplarmente e que Isa consiga seguir em frente, combatendo e lutando pelos direitos de todas nós.
A nossa principal arma para ajudar a transformar o mundo é dando visibilidade aos casos de assédio e violência que se sucedem a cada dia, vitimando mulheres anônimas e mulheres famosas, ricas e pobres, brancas e negras. O machismo é uma chaga que não respeita idade, classe social, orientação sexual ou etnia. Por isso precisamos tomar a dianteira: denunciar, divulgar, inspirar outras mulheres a se defenderem e a se posicionarem, conquistando o próprio direito de existir.
Em um mundo cada vez mais desigual, a mulher precisa assumir sua voz ativa e quebrar as barreiras que enfrentam agora, no presente, em nome de novas possibilidades de futuro. Todas nós sabemos que, quando mulheres assumem espaços de poder, causam incômodo. Isso porque estão ocupando lugares que antes eram "exclusivamente masculinos".
Eu escrevi nas redes sobre isso ao me referir a um outro ataque, desta vez contra a secretária da Fazenda de Sergipe. Sem citar o nome de Sarah Tarsila, um jornalista do seu próprio estado questionou sobre o destino de uma pasta "estratégica" agora que a gestora estava grávida. Ela própria denunciou a misoginia e pontuou que as mulheres podem ser o que elas quiserem: mães, profissionais e gestoras públicas. Reafirmo a minha solidariedade e admiração por essa colega corajosa e competente.
Tudo isso aconteceu em meio a uma série de denúncias feitas por mulheres famosas, como Ana Hickmann e Naiara Azevedo. Nem com toda exposição que elas recebem da mídia se viram livres de relacionamentos tóxicos e abusivos. O mais sério, minha gente, é que a violência se manifesta de diversas formas, e a sociedade muitas vezes parece buscar proteger os próprios agressores.
Eu defendo que todas tenham a coragem e a oportunidade de se reerguer e sair dessas situações de violência. Muito se exige das mulheres nos relacionamentos amorosos ou familiares, nos ambientes de trabalho e nos momentos de lazer. Mas pouco se fala do que elas enfrentam quando resolvem tornar pública uma agressão. Na maioria dos casos, bancando uma estrutura machista composta até por outras mulheres.
Por isso afirmo desde sempre: não são as relações com outras pessoas que nos definem. Comentários elogiosos ou depreciativos não nos fazem melhores ou piores do que somos e a opinião alheia, definitivamente, não pode pautar as nossas vidas. A liberdade de sermos exatamente como queremos ser, precisa ser um pacto inegociável com quem nos cerca. Só assim, sendo autênticas, estaremos prontas para assumir e vencer qualquer desafio que a vida nos apresentar.