O título do artigo desta semana é o verso da canção de um homem, Caetano Veloso, imortalizado na voz poderosa de Gal Gosta. A música "Dom de Iludir" foi escrita há décadas, mas até hoje representa bem o papel da mulher como inspiração, como musa no imaginário masculino. Por isso, sempre que tenho oportunidade, busco destacar a importância do protagonismo feminino. Já não queremos ser apenas personagem, lutamos para escrever a nossa própria história. O caminho é árduo, mas vale a pena ser trilhado.

A apresentadora Angélica, que durante anos fez sucesso nas TVs de todo país, hoje se mostra uma mulher extremamente consciente do seu papel na sociedade. Mãe de dois meninos e uma menina, ela surpreendeu os fãs com uma carta corajosa, escrita para a filha, durante a pandemia, em 2020. 

No texto ela diz: "não é fácil ser mulher no mundo em que a gente vive, Eva. Se você seguir todos os padrões de beleza, vão questionar a sua inteligência. Se você quiser ser de outro jeito, vão dizer que não se cuida. Eles vão falar do tamanho da sua saia, do seu corte de cabelo, de quem você escolhe para estar com você, do excesso de maquiagem, da falta de maquiagem. Eles vão comentar as marcas do seu corpo e dizer que está gorda demais ou magra demais". 

A carta é longa e pode ser lida, na íntegra, clicando aqui. O testemunho é tão forte e potente que virou uma série, que pode ser acessada aqui. Procurei trazer essa referência, antes de entrar em assuntos mais ligados à jornada na sociedade e na política, por que penso que muitas mães de meninas e de meninos, se deparam com momentos de reflexão sobre como abordar certos assuntos na etapa de formação dos filhos.

Muitas crianças não têm idade para compreender temas como machismo, misoginia, exclusão, luta por direitos, mas com certeza já precisam lidar com muitos hábitos e símbolos que ajudam a segregar a mulher a determinados papéis. Quem nunca ouviu: você não pode jogar bola, não pode subir na árvore, não pode usar essa roupa. É sobre isso: o reino do "não pode". 

Quando atingimos a idade adulta, as representações sociais continuam dando o tom da desigualdade. Na política, campo em que atuo, representamos a maioria da população brasileira e a maioria das eleitoras do país, mas isso não se reflete nos cargos eletivos. Ainda somos minorias nas Câmaras Municipais, nas Prefeituras, nos Governos Estaduais, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional.   

E nada do que estou relatando aqui é achismo. Em matéria publicada no início deste ano, a revista Exame traz dados baseados nas últimas eleições de 2022: somente 91 mulheres foram eleitas deputadas federais, correspondendo a 17% das 513 cadeiras disponíveis. Quase o mesmo ocorre nas Assembleias Estaduais e distrital, com apenas 190 candidatas eleitas ou 18% do número de vagas. No Senado Federal, apenas 10 novas senadoras ganharam a eleição no país.  

Faço questão de trazer esses dados porque temos que falar mais sobre Diversidade, Equidade e Inclusão tanto na esfera pública quanto privada. Para vocês terem uma idade, só temos duas governadoras entre os gestores das 27 unidades da Federação. Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte, e Raquel Lyra, em Pernambuco. A situação nos municípios é tão gritante quanto: somente 12% das prefeituras brasileiras têm uma prefeita mulher.

Fui eleita para assumir a prefeitura de Piranhas ainda muito jovem e passei por muitos percalços. Ser mulher e estar à frente da administração pública é uma jornada que exige coragem, resiliência e muita inteligência emocional. Lutei para construir um legado e hoje tenho a plena certeza que fiz o melhor para a população da minha cidade, que me recebe sempre com carinho, de braços abertos.  

Hoje integro o Governo Paulo Dantas, em um momento que classifico como histórico. Apesar de já ter sido secretária da Cultura no Governo Renan Filho, com todos os desafios e barreiras que isso representou, no mandato atual temos uma maioria formada por mulheres gestoras, no primeiro escalão. Esse foi um "gol de placa" do governador, por entender a importância dessa representatividade. 

Ao receber, na última semana de setembro, a Comenda Procuradora Sônia Suruagy, por ocasião da inauguração do novo prédio da Procuradoria Geral do Estado, me senti reconhecida e honrada. Assim como outros homens e mulheres agraciados, sigo buscando contribuir com meu trabalho para o desenvolvimento de Alagoas. O reconhecimento é importante para todas as pessoas, mas para as mulheres têm um significado mais amplo: representa mais um passo em direção às mesmas oportunidades.