Um surto de meningite meningocócica foi reconhecido em Maceió por representantes das secretarias Municipal e Estadual da Saúde, junto ao Ministério da Saúde. Ao CadaMinuto, a infectologista Mardjane Alves, que atua no Hospital Escola Dr. Helvio Auto, destaca a importância da vacina para prevenção, mas alerta para a necessidade de medidas que tenham resposta imediata no controle do surto.  

A doença pode ser causada por diversas bactérias e afeta todas as faixas etárias. Sobre a possibilidade de vacinação em clínicas privadas, a Mardjane esclarece que, mesmo que a vacina esteja disponível na rede privada, ela não é indicada durante surtos, devido ao tempo necessário para que a pessoa desenvolva imunidade após a vacinação.

De acordo com as informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o pico dos casos aconteceu em junho de 2023 e sua concentração ocorreu em dois bairros, Benedito Bentes e Jacintinho.  

Controle do surto

“A vacinação realizada durante um surto não tem a eficácia para controle de surto. Entre a tomada da vacinação, da primeira, da segunda e terceira dose, até que a pessoa seja considerada imunizada, tem um tempo de aproximadamente 4 a 6 meses. A vacina, mesmo essa que está disponível na rede privada, não é indicada para situações de surto por esse motivo”, destaca.  

Infectologista Mardjane Alves

Além disso, o custo das vacinas pode ser inacessível para a maioria da população. “A maioria da nossa população sobrevive com salário mínimo, então o valor de até R$ 800, torna-se inacessível, sim”.  

A médica expõe ainda que o imunizante não é inacessível somente pelo valor, mas também pela quantidade que é fornecida: “Suponhamos que 30% da população tenha condições de pagar pela vacina, ainda assim não geraria uma proteção coletiva”.  

Para o controle do surto, ela avalia que as ações sejam focadas em medidas que tenham resposta imediata, como o uso de medicação preventiva, que se utiliza nos contactantes. “Não é vacinação. Vacinação é importante para prevenção de novos casos no futuro, para redução de mortalidade, mas não para controle de surto, não nesse cenário”, alerta.  

Transmissão, tratamento e sequelas  

Em geral, a transmissão é de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Também ocorre a transmissão fecal-oral, através da ingestão de água e alimentos contaminados e contato com fezes.  

Já o tratamento envolve a administração de antibióticos intravenosos em regime hospitalar, normalmente por um período de 10 dias. Mardjane enfatiza a importância de iniciar o tratamento o mais rápido possível, pois reduz o risco de sequelas.

Um dos riscos mais graves associados à meningite meningocócica é a amputação de membros. “A consequência mais grave é a amputação de algum membro. A doença meningocócica pode provocar alterações na circulação sanguínea, resultando em manchas arroxeadas na pele. Se essas manchas afetarem extremidades, como dedos, mãos, pernas ou pés, pode ser necessário amputar o membro afetado”, explica.

Prevenção e medidas

Sobre a prevenção da meningite durante um surto, a especialista destaca que vacinas que não estão incluídas no calendário oficial de vacinação não têm eficácia para o controle de surtos. Ela explica que a vacina contra o meningococo B, por exemplo, não está aprovada no Brasil para esse fim. “Ela é importante sim, mas é importante se fosse incluída como estratégia de saúde coletiva para toda a população. Se utilizada de forma individual, o benefício dela é significativamente menor”.

A especialista enfatiza que as medidas de prevenção incluem o tratamento imediato de casos suspeitos, a profilaxia para pessoas que tiveram contato com casos confirmados e medidas de higiene geral. De acordo com ela, a meningite é transmitida por meio de saliva, gotículas de saliva durante a fala, espirro e tosse, portanto, medidas de higiene pessoal são fundamentais.

Cenário em Alagoas

Até 12 de setembro, foram registrados 29 casos de meningite meningocócica, sendo 23 casos em Maceió, e 11 mortes pela doença em Alagoas. As informações são do boletim da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

*Estagiária sob supervisão