Vocês já pararam para pensar que, em pleno século XXI, a ascensão das mulheres na sociedade ainda é um tema gerador de polêmicas? Seja na política ou nas empresas privadas, o protagonismo feminino incomoda e, por mais que a gente ouça que somos todos iguais, que temos os mesmos direitos dos homens, na prática isso está longe de refletir a realidade.

A desigualdade é mais grave entre as mulheres negras e pobres, vítimas da discriminação de gênero, raça e renda. Esse dado não é aleatório. Ele consta em um estudo publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Mulher, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas isso não impede que o preconceito se manifeste em todas as camadas sociais e esferas de poder. 

Na última semana, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, precisou usar uma caneta para ajustar o termo "governadorA", escrito em um prisma de identificação, durante uma audiência pública no Senado Federal. A saia justa provocada pelo     "detalhe" foi maior que as desculpas oficiais publicadas depois do incidente. Eu me manifestei, como mulher e como figura pública, nas minhas redes sociais. 

É preciso não se calar diante de situações dessa natureza. Não podemos correr o risco da omissão diante de uma clara manifestação do machismo estrutural que caracteriza a sociedade brasileira. Estamos tão acostumados a não ter mulheres nos espaços de poder, que não percebemos muitas vezes esse tipo de descortesia. 

No mundo empresarial, a realidade não é muito diferente. Os obstáculos para mulheres alcançarem altos cargos de liderança ainda são imensos. As questões vão desde a dificuldade em conciliar a vida pessoal e profissional até diferenças salariais: os homens ainda ganham mais que as mulheres, ocupando o mesmo cargo.

É importante destacar que as lutas dos movimentos sociais que atuam há décadas em defesa dos direitos das mulheres já alcançaram importantes conquistas. Mas a tão sonhada "equidade", termo que significa "igualdade de oportunidades", ainda está distante. Muitas de nós ainda sofrem com outro tipo de dado: a violência de gênero, que maltrata, bate, violenta e mata corpos femininos. 

Não por acaso, também na semana passada, destaquei nas minhas redes sociais a atuação da deputada federal por São Paulo, Erika Hilton. Uma mulher trans, negra e periférica que ousa defender seus pontos de vista com coesão e articulação, sempre pronta para o debate e para o embate. Ela encarna a vítima do preconceito, que encontra na violência, seja física ou verbal, o  seu eco mais perverso. 

Nós, mulheres, somos mais da metade da população brasileira, mais da metade do número de eleitores, mas ainda sofremos a tentativa diária de intimidação. Buscam calar nossa demanda por visibilidade por temerem um protagonismo que não pode mais ser adiado. Se antes o assédio era velado, disfarçado, hoje ele é aberto e pode atingir mulheres na sua integridade moral e sexual. Esse não pode ser um preço a pagar pela força da representatividade. 

Por isso, tenho tanto orgulho de fazer parte do Governo Paulo Dantas, que é um marco na gestão pública, um momento que classifico como histórico. Temos um primeiro escalão formado, em sua maioria, por mulheres. Esse foi um "gol de placa" do governador, por entender a importância da nossa voz e da nossa capacidade de liderança, demonstradas pelos resultados expressivos em todas as áreas. 

Sou uma mulher jovem, sertaneja, com experiência em gestão. Mas, também sou filha e neta de mulheres que merecem toda a minha admiração. E aqui destaco a figura forte da minha avó paterna, Cacilda Damasceno Freitas, uma mulher à frente do seu tempo.

Ela nunca ocupou um cargo político, mas exerceu uma liderança natural na região, sempre envolvida em atividades sociais, culturais e religiosas. Ela também foi a primeira mulher a assumir o Cartório de Registros de Piranhas. Era filha de um homem valente, Waldemar Damasceno, um operador de telégrafo que ajudou a capturar o bando de Lampião, como a minha família gosta sempre de lembrar.

Tenho orgulho da minha ascendência e quero contribuir na construção de um legado feminino para as novas gerações. Quero continuar aprendendo todos os dias, conversando, vivenciando as coisas de forma atenta e cuidadosa. É assim que eu enxergo a minha missão: como a oportunidade de deixar uma marca, dando uma real contribuição como mulher, como gestora e como cidadã.