A cultura popular tem um significado fundamental na construção do imaginário das sociedades em todo o mundo. Todo acervo relativo aos usos e costumes de um povo fica registrado nessas manifestações, que representam as raízes da nossa identidade mais profunda. Eu sempre tive muito orgulho de ser nordestina, alagoana e sertaneja. Por isso, acredito que reconhecer nossas origens é o primeiro passo para a valorização das nossas tradições.

Na última terça-feira, dia 22, comemoramos o Dia do Folclore e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa de Alagoas preparou uma programação especial que só terminou ontem. Tal reconhecimento é uma das nossas premissas: fortalecer o pertencimento, essa percepção de grupo que nos distingue, nos torna singulares. 

Vale lembrar que essa é uma constante no nosso trabalho: destacar o papel de cada grupo, artista, comunidade, organização ou evento que promova os fazedores de cultura em nosso Estado. No caso específico do Folclore, a cada dia, novas interpretações surgem na sociedade, demonstrando o caráter dinâmico e de constante transformação da nossa arte e dos seus registros. 

Apesar disso, a cultura popular também é a prova daquilo que se torna permanente em nosso imaginário, do que se transforma em essencial a cada geração. São expressões que, mesmo com o avanço da tecnologia e da urbanização, representam, simbolicamente, as práticas que tiveram origem séculos atrás, muitas desde a colonização e até antes da chegada dos ibéricos ao nosso país. 

Alagoas, mesmo sendo o segundo menor estado da federação em extensão territorial, possui um número recorde de folguedos. Essa característica foi identificada pelo pesquisador potiguar Câmara Cascudo, e pelo escritor modernista Mário de Andrade que, na primeira metade do século XX, percorreu o país registrando suas manifestações populares. 

As terras alagoanas eram habitadas pelos Caetés, antes da colonização portuguesa, e abrigou Palmares, o maior quilombo da nossa história. Somos, portanto, resultado da miscigenação que marca a civilização brasileira, sintetizada no Folclore pelas danças, cantos e representações que originam os ricos folguedos, cheios de significados. 

São verdadeiras obras de arte reproduzidas ao longo do tempo, que formam um repertório marcante na trajetória de quem participa e na memória de quem assiste. Faço questão de destacar um desses folguedos que, em 2019, se tornou Patrimônio Imaterial de Alagoas.

Estou falando do Guerreiro, um símbolo de resistência da nossa tradição, que faz parte do ciclo natalino alagoano, assim como o Reisado, a Chegança, o Fandango e tantos outros. A proposta foi apresentada pela especialista em cultura popular, Josefina Novaes, e eu tive a honra, como secretária e presidente do Conselho Estadual de Cultura, de conduzir a sessão que decidiu, por unanimidade, conceder esse reconhecimento.

A beleza das vestes multicoloridas e dos chapéus, confeccionados com espelhos, miçangas e fitas, além das coroas, tiaras e ornamentos de mãos são algumas das principais características do nosso Guerreiro. Sem falar a melodia dos cantos, as coreografias e a representação de cada personagem que traduzem a riqueza do nosso imaginário popular.

Os nossos folguedos são elementos tão fortes e emblemáticos que precisam ser celebrados, incentivados e   preservados. Símbolos de uma Alagoas que transborda história, cultura e memória. Como gestora e como alagoana, me comprometo com a valorização das nossas tradições e do nosso Folclore, por entender que tudo isso representa muito mais que o nosso passado: são a garantia da nossa identidade hoje e sempre.

É fundamental valorizar nossas tradições, costumes, festas e ritos populares, porque significa reconhecer o valioso património cultural que temos, com toda a sua potência econômica e representativa. Sob o aspecto da diversidade, da autenticidade do nosso povo, das nossas origens e também como ferramenta única de integração. Devemos sim, venerar o que é nosso sem subestimar o que é dos outros. Mas resgatando o pertencimento, o orgulho de fazer parte de Alagoas e do Brasil.