Agora vou escrever sobre outro tipo de golpe. Fora da política. Esses dias, anunciei a venda do carro que está comigo há algum tempo. Além de enviar mensagens inoportunas pelo WhatsApp, abusando de pouquíssimos amigos, recorri a um site especializado nesse negócio de compra, troca e venda, oferta e demanda, mercadorias, avaliações, financiamento e pagamentos à vista. (É um mundo realmente hostil e estressante. Mas isso já é uma digressão).

Fato é que, não tendo como escapar de tal circunstância, joguei meus dados no mercado online, mais precisamente no famoso site consagrado nessas operações, o OLX. Suponho que todo mundo deve conhecer. Por lá você encontra de veículos a imóveis, de computador a máquina de lavar roupa. Ao que parece, milhões de pessoas recorrem à sigla para comprar, vender e praticar escambo.

Um dia após meu anúncio, começaram a pintar interessados. Entre os primeiros que fizeram contato, houve um que demonstrou entusiasmo acima da média, digamos assim. Na contramão da regra que é tentar baixar o valor da oferta, como todo mundo faz, o suposto Marcos Carlos Lucco Júnior passou longe disso. 

Para o senhor Lucco – que apareceu no celular numa foto bem posada, num escritório todo arrumado, o carro era “lindo demais”. Foi logo me avisando que pagaria à vista e queria resolver naquele dia mesmo. Só faltou pular carnaval de tanta satisfação com a virtual aquisição do veículo.

Embora o anúncio apresentasse várias fotos do veículo, esse animado potencial comprador me pediu mais imagens e também um vídeo. Aí, vieram as informações que entregavam coisas estranhas. Falando comigo por mensagens de texto e de áudio, o rapaz explicou que o carro não seria para ele. Seria o pagamento de uma indenização trabalhista a um funcionário que estava deixando sua empresa. 

Quem iria se encontrar comigo para ver o carro, portanto, seria essa outra pessoa – na verdade, a segunda vítima da tramoia. Ela estaria “comprando” o carro desse golpista, que clonou meu anúncio e estava se passando como proprietário do meu carro. 

E o mais esquisito de tudo: para fechar o negócio, disse que seria essencial que eu não tratasse de valores com a pessoa que iria receber o carro. Não havia mais dúvida que eu estava tratando com um malandro. Nome e foto do cara no WhatsApp eram falsos.

Já alertado que estaria lidando com um golpista, pedi para fazer uma ligação de vídeo, por mera curiosidade jornalística. Mas isso não seria possível porque, segundo ele, sua conexão de internet estava “muito ruim”. Foram três dias com esse diálogo com alguém que joga mesmo fora das quatro linhas da lei. Meu último passo nessa “negociação” foi bloquear o número de celular do elemento.

Como que para confirmar que esse tipo de esquema está em alta, acabo de descobrir um aviso no próprio OLX. O site está divulgando um alerta sobre essa prática criminosa. Para prevenir seus clientes e anunciantes, o texto descreve o modus operandi dos golpistas. Bate cem por cento com minha experiência. Ao menos dessa encrenca, escapei com tranquilidade.

Em tempo: o carro, esse bonitão na foto, ainda está à disposição de interessados – desde que sejam pessoas de verdade, de carne, osso e dados reais.