Ideias atrasadas revelam a política contra o interesse público

07/10/2022 16:40 - Blog do Celio Gomes
Por redação
Image

Reconhecimento. Gratidão. Lealdade. De umas duas semanas para cá, esses termos apareceram no noticiário de modo abusivamente ostensivo. O exemplo mais eloquente veio do governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Ao justificar a declaração de voto em Bolsonaro, agora no segundo turno, ele recorreu a essa gramatologia das relações pessoais. Nada profissional. Tudo emoção. Raízes de um velho Brasil. Por aí. Está nos livros.

Poucos dias antes da votação em primeiro turno, o então candidato a governador Rui Palmeira (PSD) também falou em gratidão a Bolsonaro. Pelo que entendi, o ex-prefeito de Maceió acha que o presidente “ajudou muito” a nossa cidade. Por isso merece a devida retribuição, o que basicamente significa apoio político. Difícil...

Nas redes sociais, o senador Fernando Collor (PTB) vai na mesma corrente de pensamento. Derrotado nas urnas, ele segue no apoio enfático ao Bolsonaro candidato. Sobre isso, texto na Gazetaweb ressalta a “lealdade” de Collor ao presidente. Leal a qualquer preço. Bater continência sempre. Um manda, outro obedece.

O que incomoda nesse trololó da política chinfrim é a mistura de teatro, casuísmo e, em alguns casos, um pouco de ignorância. Esse palavreado é mais do campo da subjetividade, eu diria. Combina com as veredas do mundo privado.  

Nos governos e nas instituições, os apelos emocionais avacalham regras básicas da administração pública. Não por acaso o respeito ao princípio da impessoalidade está na letra da lei desde 1999. É uma questão de justiça social.

Mas e daí? No chão rasteiro dos acordos de ocasião, como diria aquele ministro do milênio passado, danem-se os princípios. Em nome de objetivos particulares, critérios de escolha decorrentes de lealdade e gratidão. Parece coisa de compadres.  

Alardear que esse pensamento é regra na política seria previsível demais. Porque além dos atos na vida prática, temos antes um fenômeno de linguagem. E a linguagem é o labirinto mais complexo de nossas vidas. Mas esse é outro assunto.

Pra fechar. Palavras e ideias descabidas revelam indícios de condutas inadequadas. A recorrência desse discurso, como vimos em toda parte, expõe uma visão de mundo atrasada, refém de demandas paroquiais. Longe, muito longe do interesse público. 

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..