Padre-fake, laranjal e testa de ferro: um crime escancarado nas eleições

30/09/2022 10:27 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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No submundo da bandidagem um pouco mais elaborada, digamos assim, a figura do testa de ferro é um clássico. Atende por este curioso título aquele que aparece como titular ou proprietário de uma empresa, mas na verdade é tudo ficção. Quando isso ocorre, o verdadeiro dono do negócio está oculto, certamente para poder tocar suas traquinagens livre de qualquer tipo de eventual fiscalização. É um jeito também de sonegar o pagamento de impostos.

O fenômeno é amplo e diversificado. Vou citar aqui alguma situação hipotética de outra natureza. Um coronel da Polícia Militar, por exemplo, não pode ser proprietário de empresa de segurança. Delegados da Polícia Civil também não. E não pode porque isso seria um caso gravíssimo de conflito de interesse. Mas na vida real o que mais tem por aí é delegado e coronel donos de empresas de segurança. Como? Com um testa de ferro.

A mutreta é mais ou menos idêntica ao caso dos “laranjas”. Aqui, o termo é geralmente usado para se referir a pessoas que também aparecem como titulares de empresas, sem que elas sejam de fato responsáveis por esses empreendimentos. O laranja também é aquele que, mesmo com uma vida modestíssima, figura como titular de uma conta bancária com saldo milionário. Lembram do Queiroz?

Muitas vezes, o laranja é alguém na linha da pobreza, morador das periferias, que nem desconfia que seus dados foram usados para um crime como esse. Vemos todos os dias na imprensa notícias com esse tipo de caso. É uma perversidade e tanto porque a vítima acaba tendo que provar a inocência sobre algo que não faz ideia da complexidade.

No submundo da política, essa prática ganhou nova vertente. O testa de ferro ficou mesmo para o segmento empresarial, corporativo e bancário. Já o conceito de laranja foi a outro patamar quando políticos decidiram recorrer a tal ferramenta de trabalho na vida pública. Nesse caso, laranja é aquele candidato que é candidato só na aparência, mas está a serviço de outra candidatura. E de inocente esse laranja não tem nada. Ganha muito bem para fingir que é o que não é.

Pensou no Padre Kelmon (PTB)? É isso aí. Toda eleição tem um laranjal, de norte a sul do país. A diferença agora é que, no caso da corrida presidencial, nunca se viu um laranjão tão escancarado como o padre-fake. Quem assistiu ao debate de ontem na Globo sabe do que estou falando. O cara é descarado até umas horas. É praticamente o laranja oficial de Bolsonaro.   

Aqui em Alagoas tudo indica que esse laranjal peculiar segue dando frutos em larga produção. Algum dia a Justiça Eleitoral terá de criar mecanismos que identifiquem esse tipo de bandido. É preciso barrar a atuação desse modelo de criminosos num momento tão importante da vida nacional, quando escolhemos quem vai administrar os destinos de um país.

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