A corrida eleitoral de 2022 e o governo corrupto de Jair Bolsonaro

24/05/2022 16:19 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Bolsonaro se elegeu embalado na carcomida retórica do combate à corrupção. Eu sei, a afirmação nada tem de original, mas é preciso não esquecer algo que tantas vezes parece ao mesmo tempo óbvio e, para muitos, uma enormidade de coisas novas. As promessas de acabar com o mar de lama da ladroagem e dos ladrões conquistam as boas almas desde que o Brasil é o Brasil.

Nem é necessário esticar a linha do tempo. Na corrida presidencial de 1989, primeira eleição direta após a ditadura de 64, Fernando Collor pintava o governo da época, do velho Sarney, como a pior desgraça do mundo em termos de corrupção. O jovem governador de Alagoas se referia ao presidente como “o corrupto do Planalto”. É o que a História registra.

Como falei de 1964, nunca é demais lembrar que o regime de morte também veio para nos salvar dos bandidos da corrupção. Na vida real, o legado dessa gang armada foi um país quebrado na economia e muito, muito corrompido. Tão previsível quanto a cantilena do discurso anticorrupção reaparecer a cada primavera é a falácia exposta desse mesmo discurso.

Com Bolsonaro a coisa já está naquela categoria do paroxismo. É mais que absurdo. É o auge do malfeito e o topo da hipocrisia para explicar o malfeito inexplicável: “Um governo sem corrupção”, diz a propaganda da gestão Jair Messias. A mensagem está nas inserções televisivas do incorruptível PL, o partido de Waldemar Costa Neto e do presidente.  

Ao menos na linguagem, parece que já ultrapassamos até aquela dimensão chamada de pós-verdade – se é que isso é possível. Não importa nada, apenas a repetição da fórmula discursiva. “Dono da caneta”, Bolsonaro decretou que escândalos tramados, desenvolvidos e perpetrados em seu governo deixam de ser escândalos.

A roubalheira aparece, o presidente olha para o outro lado e vai para mais uma live. A live é a janela de disparo de fake news que, do começo ao fim, serve para fazer ameaças e insistir na piada do “governo honesto”. É tudo intriga da oposição, como se dizia antigamente. Nas palavras do bolsonarismo, tudo intriga dos globalistas.

E os fatos? Os fatos estão aí, radiografados há muito tempo, mais precisamente desde que o governo foi inaugurado, lá se vão quase três anos e meio. Propina no Ministério da Saúde, esquemas na pasta da Educação, contratos superfaturados, farra no Exército com aquisições ilegais, orçamento secreto para comprar parlamentares. O centrão. A lista é comprida. Agora, sim, tá tudo dominado.

A máquina federal respira bandalheira por todos os lados. A última delinquência, revelada pelo Estadão, é bem sintomática, a combinar com o estado geral da bagaceira: corrupção na compra de caminhões de lixo. Os veículos vão para prefeituras apadrinhadas por cúmplices regionais no organograma da quadrilha-mãe. Alagoas tá nessa.

Aí chegou 2022, com nova eleição. Bolsonaro outra vez como cavaleiro da honestidade contra os corruptos da “velha política”? É demais. Isso foi em 2018. Já era. Diante do conjunto da obra no que se refere a passar a mão grande nos cofres públicos, o governo Jair Messias pode ser chamado de tudo, menos de honesto. Uma contradição assim, escancarada na brutal diferença entre pregação beata e práticas criminosas, terá algum impacto na campanha. Por aí.

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