Existe uma Alagoas fraturada de direitos,(para além da distribuição festiva das cestas básicas, ou auxílios emergenciais) abarrotada de gentes subterrâneas...
O menino de 13 anos, foi preso porque roubou um saco de pão, 2 pacotes de café, açúcar e uma porção de mortadela. Autuada a mãe justificou que faz tempo “caça” um trabalho, e nada consegue. E tinha quase uma semana que ela e mais três filhos não possuiam sequer um pedaço de pão para comer. Uma noite, o filho de 13 anos, chegou em casa com as mãos cheias de alimentos. Ninguém questionou. Sentaram-se à mesa e mataram a fome.
Fome extrema, entende?
Você tem fome de quê?
A moça liderança de um quilombo alagoano , secularmente abandonado pelo olhar estatal, desde os tempos de Cabral e também do Marechal, se vira nos trinta, e , conta feliz que com 50 reais comprou restos de carne para fazer um caldeirão de comida e alimentar mais de 12 pessoas.
As pessoas a chamam 'guerreira", mas, na verdade é uma sobrevivente exausta,uma mulher preta, líder de uma comunidade, que arruma jeitos e maneiras de soerguer-se do racismo estrutural vigente e todas suas consequencias, consolidado nas terras do Salve, Salve quilombo dos Palmares.
“Viver assim, uma luta atrás da outra, às vezes cansa,Arísia Barros”- me confidencia a moça
Faltam espaços de oportunidades e um oceano institucionalizado, que se faz invisível, de iniquidades sociais,
A mãe conta abandonou o corpo morto do filho na pedra fria e foi embora para casa, consolar os outros meninos:-"Já me despedi dele. Falei tudo que não tive tempo de falar em vida, mas, agora tenho mais 4 para criar e como não existe dinheiro para enterrá-lo, ele fica aí. Alguém enterra".-arremata em um discurso aflito,conformado.
A mãe deixou o corpo do filho na pedra fria do IML e se foi.
É a pobreza extrema marginalizada que transforma o povo em gente clandestina, asfixiada em navios tumbeiros.
Entende, o que significa pobreza EX-TRE-MA?
Existe uma Alagoas fraturada de direitos,(para além da distribuição festiva das cestas básicas, ou auxílios emergenciais) abarrotada de gentes subterraneas,desvalidas e expostas ao flagelo do abandono secular.
Uma gente que não entende essa midiatica quebra de braços, o telequete político, dos que disputam a posse da governança do estado, como um território vitalício, androcêntrico e branco, de pertença.
Capitanias hereditárias?
A quem pertence, Alagoas?
17 de julho de 1997
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