Existe uma Alagoas fraturada de direitos,(para além da distribuição festiva das cestas básicas, ou auxílios emergenciais) abarrotada de gentes subterrâneas...

05/05/2022 05:51 - Raízes da África
Por redação
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O menino de 13 anos, foi preso porque roubou um saco de pão, 2 pacotes de café, açúcar e uma porção de mortadela. Autuada a mãe justificou que faz tempo “caça”  um trabalho, e nada consegue. E tinha quase uma semana que ela e mais três filhos não possuiam sequer um pedaço de pão para comer. Uma noite, o filho de 13 anos, chegou em casa com as mãos cheias de alimentos. Ninguém questionou. Sentaram-se à mesa e mataram a fome.

Fome extrema, entende?

Você tem fome de quê?

A moça liderança de um quilombo alagoano , secularmente abandonado pelo olhar estatal, desde os tempos de Cabral e também do Marechal,  se vira nos trinta, e , conta feliz que com 50 reais comprou  restos de carne para fazer um caldeirão de comida e alimentar mais de 12 pessoas.

As pessoas a chamam 'guerreira", mas, na verdade é uma sobrevivente exausta,uma mulher preta, líder de uma comunidade,  que arruma jeitos e maneiras de soerguer-se do racismo estrutural vigente e todas suas consequencias, consolidado nas terras do Salve, Salve quilombo dos Palmares.

“Viver assim, uma luta atrás da outra, às vezes cansa,Arísia Barros”- me confidencia a moça

Faltam  espaços de oportunidades  e um oceano institucionalizado, que se faz  invisível, de iniquidades sociais, 

A mãe conta  abandonou o corpo  morto do filho na pedra fria e foi embora para casa, consolar os outros meninos:-"Já me despedi dele. Falei tudo que não tive tempo de falar em vida, mas, agora tenho mais 4 para criar e como não  existe dinheiro para enterrá-lo, ele fica aí. Alguém enterra".-arremata em um discurso aflito,conformado.

A mãe deixou o corpo do filho na pedra fria do IML  e se foi.

É a pobreza extrema marginalizada que transforma o povo em gente clandestina, asfixiada em  navios tumbeiros. 

Entende, o que significa pobreza EX-TRE-MA?

Existe uma Alagoas  fraturada de direitos,(para além  da distribuição festiva das cestas básicas, ou auxílios emergenciais) abarrotada de gentes subterraneas,desvalidas e expostas ao flagelo do abandono secular.

Uma gente  que não entende essa midiatica  quebra de braços, o telequete político, dos que disputam a posse da governança do estado, como um território vitalício, androcêntrico e branco, de pertença.

Capitanias hereditárias?

A quem pertence, Alagoas?

17 de julho de 1997

 

 

 

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