O inverso do reverso: o racismo e seu fundamento

17/01/2022 11:09 - Fábio Guedes
Por redação
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Realizei uma atenta leitura do polêmico artigo do antropólogo baiano Antônio Risério, publicado nesse domingo, 16.01, na Folha de São Paulo, intitulado “racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo”, defendendo a tese do racismo reverso no Brasil!

Para quem não conhece, Risério além de antropólogo, é poeta e ensaísta. Muito ligado ao artista Gilberto Gil, foi seu assessor quando este foi Ministro da Cultura no primeiro mandato do Presidente Lula. Inclusive escreveu o discurso de posse do novo Ministro, era seu “ghost writer”. Em 2004 pediu demissão do Ministério por conflitos internos. É conhecido por livros como “Adorável Comunista” (Versal, 2004),  “Uma História da Cidade da Bahia” (Versal, 2004), “A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros” (Editora 34, 2007) entre outros. 

O texto supramencionado é uma salada de categorias, uma miscelânea de “cases” norte-americanos para analisar o Brasil, de uma impressionante limitação sobre o significado do que foi, e deixou, o sistema escravocrata de exploração social e econômica que perdurou por mais de três séculos no país.

Muito verniz para pouca madeira. O racismo no Brasil é estrutural e tem uma fonte muito clara e bem definida: a escravidão! O tal “racismo reverso” do qual Risério advoga não tem um fundamento tão profundo e não podemos dizer que as ações afirmativas dos negros na contemporaneidade são revestidas de um racismo contra os brancos. Esse posicionamento do Risério somente revela seu mais profundo elitismo, que estava adormecido por baixo dos “lençóis de sua intelectualidade”

No início dos anos 2000, quando me mudei para a Salvador em busca de trabalho, fui convidado para um almoço na casa de um amigo, economista, que dava aulas numa Faculdade que iniciara minha longa passagem profissional na Baía de Todos os Santos.

Estava eu e ele conversando sobre Hegel, Marx, Economia Política etc., e eis que chega a porta o, à época, aclamado antropólogo Antonio Risério, que era amigo desse meu amigo. Servido na pinga como estávamos, começou a discutir conosco os assuntos que estavam na mesa. Nunca esqueci aquele sujeito meigo, com jeito de frágil, voz calma, mas de uma arrogância intelectual impressionante, espalhafatoso nas ideias e pós-moderno demais para os meus padrões de conhecimento à época.

Ao ler seu texto no domingo na Folha, me lembrei do único e último encontro no bairro de Itapuã. Um texto arrogante no estilo, espalhafatoso na análise e tão pós-moderno que mistura alhos com bugalhos, uma verdadeira anarquia, não dá para levar a sério.

Fiquei muito curioso, apenas, por saber qual a opinião do ex-Ministro da Cultura, Gilberto Gil, desse artigo do Antônio Risério, seu ex-assessor no Minc, que escreveu seu discurso de posse ministerial, e demissionário em 2004, quando saiu por conflitos internos.

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