Nos últimos anos, um fenômeno importante vem ocorrendo em Alagoas: a expansão do sistema de pós-graduação (PPGs), com o crescimento do número de cursos de mestrado e doutorado disponíveis tanto para a população local quanto para estudantes de outras regiões que escolhem o estado como destino acadêmico.

Há uma década, existiam cerca de 35 PPGs, com pouco mais de 50 cursos entre mestrados e doutorados, concentrados majoritariamente na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). As duas universidades estaduais ainda não contavam com programas desse tipo. Como discutido em artigo anterior, dez anos depois, testemunhamos um avanço significativo: atualmente, são 88 PPGs ofertando 111 cursos de mestrado e doutorado. São programas com sede local, em rede nacional ou em associação com outros centros universitários, abrangendo cursos acadêmicos e profissionais.

Essa expansão possibilitou outro movimento igualmente relevante: o vertiginoso crescimento do número de pesquisadores em Alagoas. Mesmo que esse crescimento ocorresse de forma isolada, já seria notável. No entanto, entre 2014 e 2023, Alagoas foi o estado do Nordeste que mais avançou nesse aspecto, conforme mostram dados públicos do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, do CNPq.


Em 2014, o estado contava com 8 Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs). Em 2023, esse número saltou para 34, perdendo apenas para a Paraíba em crescimento percentual de instituições produtoras de conhecimento científico e tecnológico (450%).

O desempenho alagoano no aumento do número de grupos de pesquisa, pesquisadores e doutores foi o maior registrado no Nordeste: 261%, 369% e 446%, respectivamente. Com esses dados, é possível afirmar, com pouca margem de erro, que Alagoas protagonizou a maior expansão do sistema de produção de conhecimento da região na última década.

A opinião pública, muitas vezes, não se interessa pelos temas abordados nos ambientes de pesquisa, porque acha que eles se distanciam da realidade. Entretanto, a partir da análise de nuvens de palavras dos trabalhos fomentados com bolsas da Fapeal, observa-se que, nos mestrados, destacam-se termos que enfatizam a proximidade com a nossa sociedade, tais como: Alagoas, Estudos Territoriais, Dinâmicas, Desenvolvimento, Ensino, Análise e Alagoano. Já nos doutorados, sobressaem-se: Alagoano, Desenvolvimento, Maré, Contexto, Inovação, Educação e Alagoas.


Essas nuvens de palavras demonstram que a maioria dos estudos desenvolvidos por estudantes da nossa pós-graduação não está desconectada dos interesses da sociedade alagoana. Podemos inferir que existe, claro, um problema de comunicação que, muitas vezes, impede que a população — inclusive seus segmentos mais esclarecidos — tenha acesso ou se interesse pelo conhecimento produzido por nossas instituições de ensino superior. No entanto, esse problema já foi muito mais acentuado e, atualmente, com o advento das novas tecnologias, bibliotecas virtuais e redes sociais, tornou-se bem mais fácil disponibilizar esse conjunto de saberes à sociedade.

Para concluir, é possível apontar algumas hipóteses que explicam a extraordinária expansão de Alagoas no cenário regional de ciência e tecnologia, assim como o crescimento dessa importante massa crítica de pesquisadores. São elas:

- o forte apoio do governo estadual, com editais regulares de concessão de bolsas de mestrado e doutorado e fomento às pesquisas ao longo da última década;

- o esforço e a competência das instituições de ensino superior em superar a crise nacional de financiamento à ciência, tecnologia e inovação, aproveitando o fomento estadual e canalizando energias para a ampliação dos programas de pós-graduação;

- a realização de concursos públicos para professores da educação básica do Estado;

- os concursos públicos nas instituições estaduais de ensino superior;

- a dinâmica empresarial do Centro de Inovação do Polo Tecnológico do Jaraguá (CIPT), atraindo jovens pesquisadores-doutores;

- o crescimento dos grupos de pesquisa na rede básica de educação, impulsionado pelo Programa Estadual de Iniciação Científica Júnior (PIBIC Jr.);

- os impactos do Programa Estadual Professor Mentor na constituição de grupos de pesquisa no ensino médio;

- a instalação da nova unidade da Embrapa em Alagoas, com a vinda de novos pesquisadores-doutores.