Bolsonaro e o delírio de uma tropa armada

21/12/2021 16:42 - Blog do Celio Gomes
Por redação
Image

O orçamento do governo federal para 2022 tramita no Congresso Nacional. A previsão é de que seja votado ao longo desta terça-feira, entre as duas casas legislativas, Câmara e Senado. A peça já foi e voltou do Ministério da Economia. Nas mãos do relator, o deputado Hugo Leal (PSD-RJ), os números também mudaram antes mesmo da votação na comissão que antecede o plenário. Havia um impasse sobre reajuste salarial para servidores.

Não haverá reajuste nenhum para qualquer categoria do funcionalismo público. Ou melhor, seria assim até a madrugada desta terça, quando o relator alterou valores e destinações de recursos, reescrevendo às pressas seu próprio relatório, apresentado antes como versão definitiva para o debate. O parlamentar cedeu aos encantos de Bolsonaro.

Como explicar um negócio desses? Até onde li a respeito, a grande massa do serviço público da União está sem reajuste há pelo menos cinco anos. Ainda assim, o presidente da República se empenha numa jogada de interesse puramente eleitoreiro. O reajuste seletivo justamente para a tropa da PF não deixa dúvida: o capitão da tortura delira com um exército particular, uma milícia especial para o caso de emergência.

Bolsonaro não se reelege. Como já escrevi aqui, ele não aceitará o resultado das urnas e tentará pela última vez o caminho de um golpe. O panorama de terra devastada para as pretensões do Messias foi radiografado pelas últimas pesquisas Ipec e Datafolha. Uma rejeição de 60% é o naufrágio anunciado de qualquer candidatura.

Sim, a obsessão pelo agrado à turma da PF também mostra o raquitismo moral de Bolsonaro. Ele parte do princípio que compra a tropa pelo bolso. Naturalmente não conseguirá explicar uma manobra claramente casuística, para dizer o mínimo. É mais um sinal do desespero que toma conta no ambiente quadrilheiro do Planalto.

O valor destinado pelo relator para o reajuste da PF é de 1,7 bilhão de reais. Paulo Guedes, o ministro da Economia que enquadraria Bolsonaro, era contra o aumento. Explicou ao presidente que teme haver uma reação dura dos sindicatos das demais categorias. Além de não haver dinheiro pra todo mundo. Mas engoliu mais uma humilhação pública e cedeu. O cargo, a vaidade.

Voltando ao tema, para fechar: Bolsonaro terá de ser contido, com ou sem uma eventual milícia particular. Ou com um exército de lunáticos dispostos a qualquer coisa, em nome de algo até meio difuso, trabalhoso de compreender. O Brasil não aguenta mais essa tranqueira.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..