Decoração natalina e esgoto na praia

15/12/2021 11:52 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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A paisagem mudou ao longo da orla marítima que vai da Pajuçara até Jatiúca. O fim de ano está aí, a “decoração natalina” apareceu, os turistas invadem Maceió. Quem passa pela beira do mar ao longo desse percurso já percebeu que o movimento está muito mais intenso. A previsível agitação de todo dezembro é turbinada com a reabertura de tudo após a queda dos números da pandemia de Covid-19. Parece que a ordem é recuperar o tempo roubado, celebrar como se fosse o regresso da felicidade perdida. Por aí.

De fato, como em anos anteriores, é um visual bonito. Coqueiros iluminados, esculturas espalhadas pelo canteiro, painel gigante que seduz a multidão à procura do selfie perfeito... Crianças, casais, solitários, patotas, veteranos, todos os tipos caem na muvuca, capturados pela vertigem de uma beira de praia indiscutivelmente sem igual.

Diria que Maceió, ao menos nessa parada festiva com a “área nobre”, vai bem. Para o morador da capital alagoana e para o turista, as atrações para o passeio ao ar livre estão de boa medida. Vale ficar atento para as apresentações de arte em diferentes pontos, com destaque para a praça Multieventos. Lá eu assisti, no fim de semana que passou, ao Festival de Bumba Meu Boi.

Aí, de repente, caiu uma chuva. Nenhuma enxurrada que durasse dias, ou mesmo algumas horas. Foi só um pouquinho, mas parece ter sido o suficiente para escancarar uma mazela histórica: as ligações clandestinas de esgoto que despejam toda a sujeirada na areia da praia, na água do mar. Um espetáculo de feiura e agressão ao meio ambiente e a todos nós.

As chamadas “línguas sujas” existem porque prédios de apartamento, hotéis e restaurantes agem criminosamente contra a saúde pública. Todo mundo sabe disso há décadas. Os maiores poluidores, entre Pajuçara e Jatiúca, passando por 7 Coqueiros e Ponta Verde, são grandes empresários e ricaços da política. Nessa tragicomédia não tem segredo nem mistério. 

Na já remota década de 1990, a então prefeita Kátia Born anunciou uma medida radical: iria tamponar os esgotos clandestinos. Com isso, dizia a propaganda da prefeitura, a podrera, agora represada, retornaria à origem. Ou seja, toda a lama começaria a vazar no chão dos imóveis que estivessem jogando o esgoto direto na praia. Não deu em nada, claro. Era só política.

Voltando ao século 21, com a cidade tomada por turistas para o Natal e o Ano Novo, a presepada secular se esparrama outra vez. Aí entram os órgãos públicos. Primeiro, o Instituto do Meio Ambiente multou a prefeitura de Maceió, por ser a responsável pela manutenção das galerias. No dia seguinte, a prefeitura multou a BRK, empresa que substituiu a Casal na gestão do saneamento e fornecimento de água.

O IMA é um órgão do governo estadual. A resposta da prefeitura não foi apresentar solução para o problema. Resta evidente que a preocupação do pessoal do prefeito JHC foi dar uma reposta política, um contra-ataque por vingança da multa que recebeu.

O episódio reafirma também a velha tradição do jogo de empurra, com cada lado querendo escapar das responsabilidades. Enquanto isso, a calamidade segue sem que as autoridades expliquem, por A mais B, o que estão fazendo para resolver o caso. Passou da hora. O espetáculo noturno vai embora com a decoração temporária. O espaço público e seus habitantes continuam.

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