Não pretendia escrever sobre a escolha do novo ministro para o STF. Mas mudei de ideia depois de ser atropelado pela imagem que está aí acima. Para um observador, o elemento à esquerda é, embora não pareça, o presidente da República. Como se vê, Jair Bolsonaro está fora de si, com uma satisfação transbordante por emplacar o nome que tanto queria ver no Supremo.

O elemento à direita é o próprio escolhido para a cadeira vazia após a aposentadoria de Marco Aurélio Mello. E como também se pode conferir, André Mendonça está igualmente fora de controle. Parece uma dupla de patetas em algum filme de comédia pastelão de antigamente. É o registro de mais um episódio-síntese, entre tantos, de nosso desastre.

Desastrosa é a eleição dessa figura ridícula para a mais alta corte da Justiça do país. Na sabatina do Senado, o então candidato ao posto apresentou um personagem. O descaramento chega a causar irritação, tamanha a distância entre a retórica e todos os atos praticados por Mendonça quando ministro de Bolsonaro.

Ele foi advogado-geral da União e ministro da Justiça. Nos dois cargos, meteu-se a investidas vergonhosas, como a intimidação de jornalistas críticos ao governo de seu chefe. Tacanho, queria reabrir igrejas no auge da pandemia de Covid-19, quando morriam mais de três mil pessoas por dia.

Ele é o famigerado “terrivelmente evangélico”. Foi com essa credencial que André Mendonça garantiu sua indicação por Bolsonaro. Depois de quatro meses de presepada do presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre, finalmente houve a sabatina e a votação do plenário.

O placar foi apertado. Não importa. Agora são dois homens do bolsonarismo entre os 11 do STF. Parece pouco, mas já é suficiente para muito estrago. Um pedido de vista, e já era. Não é correto cravar, porém, que ambos serão eternamente fiéis ao padrinho. Bolsonaro vai passar logo. Os caras têm décadas de toga pela frente.

Agora, olhando para foto que me faz escrever, o que se pode imaginar dos votos de André Mendonça? Se alguém pensou em seriedade, independência e senso de justiça, desconfio que esteja ligeiramente equivocado. E, claro, pela imagem somos informados do que já estamos cansados de saber: Bolsonaro e sua quadrilha avacalharam esse Brasil brasileiro.