Na aliança entre Arthur Lira e Bolsonaro, o vale-tudo pelo poder

14/10/2021 11:32 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Bolsonaro achou em Arthur Lira o parceiro ideal. Como ocorre nesse tipo de união, um não confia no outro e vice-versa. Primeiro, o noticiário e os analistas entenderam o casamento como uma tacada certeira do presidente, que passaria a dominar a agenda da Câmara após apoiar ostensivamente a eleição do deputado alagoano para o comando da Casa. Por esse entendimento, deu-se como certo que o miliciano do Planalto estaria blindado para sempre contra qualquer denúncia, por qualquer tipo de crime.

É e não é bem assim. Num segundo momento dessa interpretação, vozes na imprensa começaram a apontar o contrário do que se dizia inicialmente: na verdade, é Bolsonaro que será refém de Arthur Lira, liderança inconteste do consagrado Centrão. Centrão é aquele bloco tratado pelo general Augusto Heleno como um bando de gatunos. Para quem tem dúvida sobre o que escrevo, basta um clique na internet para assistir ao vídeo do general no qual ele explica sua tese, recorrendo a uma cantoria.

Mas isso é passado. Bolsonaro e seguidores deixaram de lado aquela brincadeira de inaugurar a “nova política”. Afinal, isso sempre foi ficção científica para embalar o sonho dos rapazes que combatem a assombração do globalismo. Decidido a se manter no poder a qualquer custo, o capitão da tortura conta hoje com uma base sólida, formada por bandidos de variadas espécies e diferentes cores ideológicas, digamos assim. Tem marginal de farda, de terno e gravata, com e sem mandato.    

Por enquanto, Bolsonaro tem se comportado exatamente como o presidente da Câmara espera e, mais que isso, exige. Terá de ser assim o tempo todo. Tacanho nas ideias, mas nada bobo no campo da política, Lira vai garantindo tudo o que deseja nessa parceria de conveniência. E não tem sido pouca coisa. Apenas no “orçamento paralelo” das emendas, os milhões e milhões têm irrigado as bases eleitorais do cacique e de seus aliados. O loteamento de cargos é outra farra no pacote republicano combinado pela dupla.

Histriônico para manter os súditos no cabresto, mas obediente às demandas de Lira, para não ver o mandato sob ameaça, Bolsonaro, sim, está blindado no Congresso. Mais de 100 pedidos de impeachment dormem nas gavetas da presidência da Câmara. Projetos que irritam o capitão da rachadinha – ainda que importantes para o país – são travados na Mesa Diretora do parlamento.

Nessa toada, sempre que pode, Lira sai em defesa do pior presidente que o país já conheceu até hoje. Agora mesmo, o deputado acaba de dizer, em viagem oficial à Itália, que o mundo “comprou uma narrativa complicada” sobre o Brasil. Foi um jeito bem peculiar de negar o desastre inegável que toma conta da paisagem brasileira. A declaração confirma que, por enquanto, os dois seguem afinados, ainda que com aquela mútua desconfiança.

Reportagem no Estadão diz que Arthur Lira tem um poder inédito em nossa República. É por aí. A tabelinha entre o paroquiano de Alagoas e o miliciano de Brasília será testada pra valer em 2022. A tendência do eleitor, à medida que o tempo correr, será o farol de ambos. Difícil um desfecho no qual os dois saiam por cima. Quando a coisa esquentar, um vai pular fora pra salvar a pele – ou os dois afundam no abraço de afogados. 

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