“Aquilo roxo”: deputado que ofendeu servidoras públicas tem de ser punido

13/10/2021 11:39 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Fernando Collor de Mello, então presidente da República, foi a Juazeiro do Norte, no Ceará, no dia três de abril de 1991. Durante uma solenidade em que anunciou liberação de recursos para vários projetos, ele enfrentou um protesto de manifestantes que pediam o fim de seu governo. Ao lado de Ciro Gomes, o governador cearense naquela época, e do afamado milagreiro Frei Damião, Collor reagiu aos críticos com uma declaração que entrou para a História, ao informar ao país que havia nascido com “aquilo roxo”.

Era uma referência às partes baixas da anatomia masculina. A declaração completa foi assim: Não nasci com medo de assombração, não tenho medo de cara feia. Isso o meu pai já me dizia desde pequeno, que havia nascido com aquilo roxo, e tenho mesmo, para enfrentar todos aqueles que querem conspirar contra o processo democrático”. Como se sabe, o “símbolo” de coragem e macheza não impediu que o presidente renunciasse ao cargo no ano seguinte, triturado num processo de impeachment.

Três décadas depois, outro nome da política alagoana ressuscitou o pensamento de Collor – desta vez para ofender de modo rasteiro e covarde duas servidoras públicas de Arapiraca. Trata-se de Tarcizo Freire, um supérfluo deputado estadual sobre o qual, ressalto, jamais perderia meu tempo escrevendo qualquer coisa. Abro uma exceção diante da atitude repugnante desse político que usa o mandato para cometer ato de tamanha indignidade.

Como o CADAMINUTO já informou, o episódio ocorreu na sexta-feira da semana passada, numa sessão na Câmara Municipal de Arapiraca. O sujeito tem um filho vereador que achou por bem convidar o pai para a ocasião. Ao falar sobre projeto da prefeitura que prevê a realocação de ambulantes, o deputado partiu com as quatro patas pra cima de duas mulheres (ah, esses valentões de araque...).

Os alvos do mequetrefe que tem assento na sempre suspeita Assembleia Legislativa foram a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rosa Lira, e a assistente social Lidiane Paes. O espetáculo foi registrado em vídeo que correu a internet. Ao engatar um discurso cheio de barbaridades, esse anão moral fica de pé, chega a – asquerosamente – tocar o corpo da secretária, que está a seu lado, e parte para o esgoto de seus princípios.

Não reproduzirei aqui os termos usados pelo elemento. A coisa é tão absurda que seria deselegante com as vítimas do deputado. Mas é importante destacar que ele não fala em “aquilo”, como fez Collor. O arapiraquense é mais direto, mais objetivo, mais bruto, mais avacalhado – se é que estou sendo claro. Tarcizo Freire, pelo visto, jamais esqueceu a “façanha” do ex-presidente e, finalmente, pode ele mesmo reproduzir o achincalhe.

Nunca se viu algo tão degradante na fala de um homem público em Alagoas. Não ao menos que eu lembre. Diante de uma plateia, numa Câmara Municipal! Vai ficar por isso mesmo? Existe Comissão de Ética na Assembleia? Se existe, serve pra fazer o quê? Alô, deputadas e deputados, mostrem que resta alguma dignidade por aí. Decidam por alguma punição a esse desqualificado. E o Ministério Público, tem algo a fazer diante dessa patifaria ou prefere se esconder na tradicional omissão?

Durante o ataque do político, a secretária Rosa Lira reagiu com altivez, o que não se viu em nenhum dos machos presentes – estes assistiram caladinhos ao festival de ofensas. Às duas servidoras agredidas, meu apoio irrestrito, meu respeito e admiração

Espero que o parlamentar receba alguma punição por sua postura delinquente. Se nada for feito, restará provado que nossa política em geral, e a Assembleia em particular, aceitam conviver harmonicamente no meio do lixo.

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