O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Correios e Telégrafos (Sintect) de Alagoas, Alysson Guerreiro, disse ao CadaMinuto em entrevista neste sábado (8), que a venda dos Correios é uma proposta ruim não só para os trabalhadores, mas também para a população em geral.

Após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), afirmar que a proposta que autoriza o governo a privatizar os Correios deve ser votada entre junho e julho, Guerreiro comenta que não é um momento bom para debater esse assunto.

Ainda durante a entrevista, Guerreiro afirma que há risco de demissão em massa para funcionários da empresa após a privatização.

 

Confira a entrevista na íntegra:

 

Como o Sindicato avalia a proposta que autoriza o governo a privatizar os Correios?

A proposta de privatização de venda dos Correios é muito ruim não só para os trabalhadores, mas também para a população em geral. Hoje os Correios como empresa pública tem a obrigação de atender a todos os municípios, aos 5.570 municípios desse país, e com a privatização não vai ter essa obrigação de ter agências em todo país. A gente vê principalmente em momento de pandemia, onde os Correios foi considerado como serviço essencial e em nenhum momento parou de atender a população. Entendemos que  não é um momento bom para debater esse assunto, mas que se for para debater, que se debata às claras, que converse com a população, que a gente consiga ser escutado pelos parlamentares, que a gente consiga debater e mostrar os pontos ruins dessa proposta.

 

Quais serão os efeitos para os funcionários caso a proposta seja aprovada? Há risco de demissão em massa?

A gente não tem dúvida que a privatização é um risco para os funcionários, já que os Correios passará a ter um dono e ele não teria obrigação nenhuma com os funcionários que estão nessa empresa. Ele poderá demitir tranquilamente os funcionários, assim como ocorreu na Eletrobras quando passou para a Equatorial e houve uma demissão de massa dos trabalhadores. Não vai ter essa questão de ter que ficar com os trabalhadores que hoje são concursados, que fizeram concurso para entrar nessa empresa, então difícil de achar que não vai ter demissão em massa.

É importante dizer também que os Correios no ano passado deu um lucro de mais de um bilhão de reais, mas até o momento não vemos o investimento na contratação de pessoas. Quem entrega correspondência e encomenda são pessoas e não robô, não é máquina, então precisa de pessoal para entregar, precisa de equipamento maquinário, motos, carros e veículos novos para que a gente consiga atender a população. No entanto, a gente vê que existe esse dinheiro em caixa e me parece que estão guardando para que as pessoas que façam a compra da empresa recebam os Correios com muito dinheiro em caixa.

 

 

Qual será o impacto sentido pela população caso a estatal seja privatizada?

Muitas vezes a população não entende que os Correios é uma empresa que tem um cunho social muito grande, ou seja ela precisa atender a toda população desse país. Em grandes catástrofes nesse país a empresa de logística que vai solucionar e fazer a entrega de mantimentos donativos, esse caráter  social os Correios tem e nenhuma empresa privada terá esse caráter de ajudar o país no momento que precisar.

Outro serviço muito importante que os Correios faz é a entrega de livros didáticos em escolas públicas do país, então com a privatização como ficaria essa entrega de livros didáticos? A gente sabe que em uma privatização não teríamos os Correios fisicamente em todo o país como temos hoje. Se a população não se atentar às coisas que estão acontecendo, vão perder vários direitos e infelizmente a população, principalmente os locais mais longe, vão ficar sem esses direitos.

 

Qual a importância de medidas de conscientização sobre a privatização para a população?

Estamos fazendo atos em algumas cidades, estamos indo no interior do estado, colocando carro de som e explicando a população daquela cidade que vai perder os Correios. A gente teve muita reclamação em várias cidades porque foram retirados os bancos, teve a questão do Banco do Brasil que foi retirado de várias cidades, um exemplo é a cidade de Barra de Santo Antônio onde não existe mais banco, apenas os Correios como braço do Governo Federal na cidade. Nós vimos que a população sequer sabia que isso poderia acontecer se vier a privatização, então é preciso que a população não seja enganada e os parlamentares venham para cidade conversar com a população.

 

O Sindicato acredita que com a privatização o cenário econômico do Brasil irá melhorar?

Quando se fala do cenário econômico, sem sombra de dúvidas não vai melhorar. A tendência nesse cenário é de piora na questão econômica, já que vários empreendedores, principalmente no interior do país, nas cidades pequenas do país, onde trabalham com serviço de e-commerce e precisam postar suas encomendas. Muitas vezes eles vendem esse serviço nas redes sociais e precisam postar suas encomendas nas agências dos Correios, porque é a única agência aberta em todo local do país e não vão conseguir, já que não vai ter mais essas agências para eles postarem.  Essas pessoas vão precisar ir para os grandes centros para postar e muitas vezes essa população vai ter que se deslocar para uma cidade maior para receber suas encomendas. Isso já acontece hoje quando se fala de empresas que são concorrentes dos Correios, que muitas vezes a gente compra encomenda via internet e essas mesmas empresas, que posso até citar uma a Fedex, usa o trabalho dos Correios, ou seja o camarada compra uma encomenda que é vendida em São Paulo e a Fedex coloca a encomenda de São Paulo para Maceió e daqui de Maceió a Fedex posta na agência do Correios para que entregue essa encomenda no interior do estado. Ela não atende esse pessoal do interior do estado, isso porque ela não vê lucro para entregar no interior então ela usa o serviço dos Correios porque sabe que precisa e tem que atender toda população do estado e do país.

 

*Estagiária sob supervisão da editoria