Na terça-feira de carnaval, 16, no caminho que passa pela orla de Maceió, e embaixo de um sol causticante, avistei Quitéria, a preta idosa em situação de rua, arrastando uma mala do tamanho do mundo todo.
Fui ao seu encontro , puxando assunto falei da sandália marrom que Eulina Neta me incumbiu de entregar.
Ao ver a sandália exclamou, bem contente:- Que bonita! E, é nova!
No pacote coloquei máscaras e um alimento. As máscaras provocaram a abertura de mais um sorriso :- As mascaras também são novinhas e muito bonitas. E, se fazendo política acrescentou :- Claro que aceito tudo o que as pessoas me dão, mas ganhar uma coisa novinha é muito bom, né?
Quitéria, a preta idosa, trazia os lábios queimados e o corpo agasalhando a poeira dos tempos de abandono.
Quis saber da família e reticente falou que o pai morreu quando ela tinha 8 anos. E sua mãe?-pergunto. Monossilábica respondeu: também!
Despeço de Quitéria para prosseguir a caminhada e logo mais na frente um senhor deu 5 reais à preta. Fato que a deixou exultante, me mostrando a cédula :- ganhei 5 reais!
Cinco reais foi o preço da felicidade de Quitéria, numa manhã da terça-feira de carnaval!
Terça-feira de carnaval!
