Rodrigo Veloso é um cabra branco, carioca, gay, letrado e desletrado para tudo que é limitadamente convencional, pesquisador ,muito, muito politizado. Nas muitas vezes, que fui ao Rio, não deu para conhecê-lo, mas, acredito que, com permissão da espiritualidade, esse tempo virá.
Reproduzo o texto que Rodrigo postou em sua página pessoal, porque, além de esclarecedor, tem alma lavada , e, é de um cabra que esta ativista preta nordestina nutre grande respeito. Leiam:
Foi Beijo Magnífico!
Antes de nós chegarmos ao ato, falemos do percurso até ele.
Gil entra no Big Brother no lugar de uma bicha. Que quer dizer que foi rapidamente transformado em caricatura por quem ainda, no século XXI, acha que uma bicha se comporta como bicha apenas para divertir o ambiente. Sobre as bichas ainda pesam estigmas de faladeiras, exageradas, pouco confiáveis (joga no time de la, neah?), quando na realidade são as outras pessoas fabricando essas interpretações de forma preconceituosa o tempo todo.
Já Lucas, preferiu a armadura. Muito comum para quem cresce acuado. Usou a marra para sinalizar aos demais que não daria brecha aos oportunistas. E foi rapidamente execrado, como se tivesse cometido um daqueles crimes realmente bárbaros que já foram cometidos lá dentro, como sugerir que estudantes são vagabundos ou que nordestinos são piores que os outros brasileiros.
Os abusos de caricaturas sobre Gil se tornaram tão imediatos quanto ele mostrou personalidade diante dos dominadores do pedaço. Assim que pôs a cabeça para fora, recebeu de volta os boatos de rotina: forçado, fofoqueiro, de pouca confiança etc. Os influencers que adoram pink money e se enrolam em bandeiras LGBTIA+ na expectativa de aumentarem seus cachês, como em um passe de mágica, foram desnudados à realidade onde reproduzem a homofobia para quebrar a humanidade de um competidor no mercado de trabalho.
Lucas, ao usar uma atitude de marra, recebeu um tratamento ainda muito mais violento. Pessoas como ele quando tomam a mesma atitude nas ruas do Brasil são grupo de risco para violência física e assassinatos. Naquele contexto, ele foi isolado e torturado, só que psicologicamente. Aqui fora, sem dúvida, teria sido pior.
O Big Brother Brasil não está, infelizmente, apenas mostrando casos de homofobia e racismo na televisão. Ele está, sim, falhando em conseguir impedir que uma sociedade homofóbica e racista se apresente desta maneira diante das câmeras.
Em uma casa com participação de famosos, como agravante, estes tiveram a maior facilidade para selecionar entre os demais aqueles de perfil mais amigável para chamar de grupo. Os agraciados, por sua vez, foram se sentindo compelidos a dar cada vez mais provas de lealdade e gratidão pelas relações especiais, sempre em busca de mais migalhas. [aqui fora matariam por uma festa com Fiuk com elenco da próxima novela].
O que ninguém esperava, porém, era por um beijo. Foi além de tudo que estava planejado. Foi magnífico!
As almas pobres foram espantadas como moscas. Eles ficaram boquiabertos. Eles ficaram espantados. Eles não tiveram palavras para descrever. Aqueles dois que eles achavam que já tinham vencido, de repente,estavam se beijando no meio do jardim, trocando amor, e eles não tinham um gesto pronto para reagir.
A atitude acabou em martírio. Ao lançar mão desse gesto, Lucas sucumbiu à pressão, e resolveu deixar o programa. Mas por aqui não faltará quem vai lembrar da cena como heroica.
Fonte: Facebook do Rodrigo.