Anin  Urase é  pan-africanista de orientação garveysta, mulherista africana, afrocentrada. Uma afrikana em diáspora em eterna busca de suas origens. Compartilhadora de pensamentos baseados nas leituras afrocentradas. "Nada criei, sou só uma propagandista de ideias' e  quando Anin fala  é importante ouvi-la.

Fala Anin:

'Há uma espécie de "militância" que me deixa angustiada. É um negritude sem africanidade, um anti-racismo anti-africano, um negócio difícil de gerar bons frutos.

"Eu sou preta!" ao mesmo tempo que debocho de sotaque nordestino - esse sotaque cheio de influência africana! "Sou preta! " mas minha noção do que é ser educado é curitibana "não toco nas pessoas".

E aí vão aparecer diversos textos para justificar essas (e outras) contradições com um "somos humanos, podemos errar". Não se trata meramente de contradição humana. Esse é o grande paradoxo existencial do povo negro.

Se a gente quiser se aprofundar na teoria, Richard Wright vai chamar isso de "mentecídio". Muniz Sodré, de "semiocídio ontológico". Asante, de "deslocamento psicológico". Prof. Jayro Pereira de "consciência negra com subjetividade branca" . Em resumo, é o mesmo fenômeno.

Antes de matarem o nosso saber (o tal do epistemicidio) há uma morte do SER que transforma indivíduos africanos (ou afrodescendentes, como queiram) em brancos de pele escura. Por isso "sou preta!" mas "nomes africanos são esquisitos". Por isso "sou preta!" mas todas as minhas noções do que é bom, ruim, feio, bonito, certo, errado... Pertencem ao colonizador.  

Matando um ser em seus valores originais, tudo o que ele fizer e produzir (ou quase tudo) será para o prejuízo de seu próprio povo.

Todos nós somos vítimas desse paradoxo existencial, ninguém esta imune. Mas há quem lute contra isso diuturnamente. É um processo que não acaba em nós. Vai levar gerações.... E, me desculpem os entusiastas da terapia... Não é (só) psicólogo que resolverá isso (seja ele preto ou branco).

Há um caminho pessoal, interno e também coletivo que cada um de nós precisa percorrer para reconstruir esse ser... A partir de concepções humanas que de fato são nossas. É voltar pra casa. Sankofa...  

Caso contrário, continuaremos gerando gerações e gerações de "militantes" que "militam" contra o racismo ao mesmo tempo que reforçam os valores do sistema racista de opressão branca. "Pretos no topo!"  

De nada serve anti-racismo sem base africana. Aliás, ser anti-racista está longe de dar conta da nossa reconstrução existencial.'

Fonte; Facebook da Anin