Com Arthur Lira presidente, Câmara seria um puxadinho do Planalto, subserviente a Bolsonaro

27/12/2020 13:48 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Informa o jornalista Lauro Jardim, em O Globo: Os articuladores políticos de Jair Bolsonaro trabalham com um mapa de 500 cargos federais a serem preenchidos em troca de votos para Arthur Lira, o candidato do governo à presidência da Câmara. O próprio Lira trabalha para dar forma a esse mapa. Sua eleição é a prioridade números um, dois e três do Palácio do Planalto. É por isso que Lira tem chances reais de vitória na eleição marcada para fevereiro. Montado na máquina governista, o alagoano está confiante que leva a parada. Será o homem de Bolsonaro no parlamento brasileiro.

Mas o deputado sabe que não será fácil de jeito maneira. Rodrigo Maia (DEM), que passará o cargo para o sucessor, conseguiu fechar um bloco de peso no apoio ao deputado Baleia Rossi, do MDB de São Paulo. Do modo que as coisas seguiram, ficou claro que na eleição está em jogo a influência de Bolsonaro sobre a Câmara. Ele quer dar as ordens. A temporada de Rodrigo Maia no comando da Casa nunca foi de vida boa para o capitão do Planalto.

É por isso que o discurso de Baleia Rossi é exatamente o de uma Câmara independente – o que não haverá com Lira presidente. O parlamentar do Progressistas, um dos exemplares membros do notório Centrão, terá de entregar a Bolsonaro o que ele quiser. Não fosse assim, o Jair não estaria nesse nível de engajamento. Como já escrevi aqui, o presidente negacionista teme um processo de impeachment – que só anda se a Câmara autorizar.

Na mesa da presidência da Câmara há dezenas de pedidos de impeachment para Bolsonaro. Basta que o comando do parlamento leve um dos casos à pauta. Esse é um poder – exclusivo e descomunal – de quem estiver na presidência da Câmara. A única coisa que interessa a Bolsonaro é proteger seu mandato e blindar sua turma de milicianos, incluindo os três filhos delinquentes. O governo se resumiu a isso – biombo de marginais.

Para obter o apoio dos colegas alagoanos, Lira joga com a ideia de que, uma vez lá no topo, Alagoas será beneficiada. Seus apoiadores por aqui também repetem essa lorota. O prefeito eleito de Maceió, JHC, é uma dessas vozes delirantes. Delírio, sim, porque essa história só engana os que gostam de ser enganados. Não existe relação direta entre uma coisa e outra. Tal discurso, aliás, depõe contra o postulante que pede voto na eleição.

A conversa de que um alagoano em postos de comando significa facilidade para o estado obter recursos e projetos é piada. Uma piada velha, aliás. Lembro que em quase toda eleição para governador, a ladainha se repete: algum candidato vai se apresentar como aliado do presidente de plantão. “Teremos as portas abertas em Brasília”, disseram diferentes candidatos em eleições estaduais. É uma mentira descarada, um insulto.

Bolsonaro casadinho com o Centrão e com Arthur Lira é um presente para a seita, para o Gado, como ficaram conhecidos os patetas de verde e amarelo. Em Alagoas, os rapazes que se apaixonaram pelo jeitão truculento do Jair não sabem o que dizer sobre a “nova política” do ídolo. Todos estão fazendo os maiores malabarismos retóricos para explicar o inexplicável. Os patriotas que se vestem com a bandeira nacional seguem no cabresto.

Falta mais de um mês para a eleição na Câmara. Até lá, imagine o que a máquina de Bolsonaro será capaz de fazer para fortalecer a candidatura de seu apadrinhado. Mas isso pode até ter um efeito contrário. Pelo bem da democracia, tão achincalhada por Bolsonaro e sua gang, seria saudável uma derrota de Arthur Lira. O parlamento é a essência do regime democrático. A Câmara não pode ser subserviente, um puxadinho do Planalto.

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