Música alagoana no cemitério, a revolta dos “artistas” e a campanha contra o governador

26/12/2020 11:08 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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O governador Renan Filho enfrenta um levante de um grupo de artistas de Alagoas. É o que informa reportagem publicada aqui no CM. Pelo novo decreto estadual, nos próximos 15 dias estão proibidos shows de música ao vivo em bares e restaurantes. Desde a publicação das novas diretrizes, na última quarta-feira 23, o pessoal que trabalha na noite caiu em campo para protestar. Além do veto a apresentações musicais, os estabelecimentos não podem ficar abertos após a meia-noite. A medida do governo decorre do aumento do número de casos de Covid-19. Um quadro mais preocupante.

Mas o pessoal da cantoria e dos instrumentos não aceita o argumento. Houve protesto de rua contra as novas restrições na noite da quarta. E nesta sexta-feira os revoltosos tornaram a se manifestar, agora na praia de Ponta Verde. A categoria alega não ser responsável pelo recrudescimento da pandemia em Alagoas. Na verdade, a chamada segunda onda já ocorre no Brasil e em outras partes do mundo. Isolamento e máscara são essenciais.

O movimento dos trabalhadores da música, digamos assim, tem apoio do pessoal do turismo, dos hotéis e da balada na capital. É compreensível. De fato, a quebradeira desse setor é algo dramático – e ocorreu em todos os estados. Em capitais como Rio e São Paulo, restaurantes tradicionais, com décadas de atividade, cerraram as portas para sempre. Sim, a economia entrou em parafuso. E qualquer previsão não passa de chute e torcida.

De novo aquele velho falso dilema: a escolha entre o mercado e a vida. Sob o governo de um delinquente chamado Jair Bolsonaro, tudo ficou ainda mais grave com as bravatas, as mentiras e as canalhices que o ocupante do Planalto expeliu sobre a pandemia. Para ele só interessa a economia. Todo mundo vai morrer um dia, porra! Diante do recorde de vítimas, ele vocifera: “E daí, quer que eu faça o quê? Eu não sou coveiro”.

Mas eu tenho de falar sobre a campanha dos músicos e artistas na internet contra o governador. Eles decidiram partir com tudo na arena que é hoje o espaço ideal das guerras e guerrilhas: as redes sociais, claro. A foto que ilustra este texto é a reprodução de uma postagem no Instagram. Segundo apurei é apenas um exemplo de vários perfis que estão mobilizados pela causa. A ordem é produzir uma série de peças como esta da foto.

O epitáfio: #LUTO pela música alagoana. É o que se lê na arte reproduzida nas redes, como o leitor confere na mesma foto que reproduzo aqui. Curioso: pela imagem, nossa música já está no cemitério, sepultada com uma viola e uma sanfona. A lápide ainda ostenta a bandeira de Alagoas, que é para não haver dúvida quanto à identidade da falecida. Uma empresa foi contratada para bolar as peças de ataque ao governo e em defesa da anulação do decreto. A ofensiva tende a crescer. É o que sinalizam os líderes da mobilização.

Além do Instagram e Facebook, os organizadores do movimento também criaram um grupo no WhatsApp – o que é quase uma obrigação para qualquer finalidade hoje em dia. Os revoltosos trocam informações e também vídeos e fotos. A ideia é constranger o governador com a exibição de eventos nos quais ele descumpriria regras de isolamento. Um dos vídeos mostra Renan Filho num churrasco, aglomerado, sem máscara.

Eu vi esse vídeo. Não dá pra saber se é atual ou antigo. Portanto, não se pode acusar o governador a partir daquelas imagens. Até o momento em que escrevo, não há notícia de que o governo cogite voltar atrás. É um drama, mas de uma coisa não se pode esquecer: é a saúde das pessoas o que de fato interessa. Não adianta liberar o palco e a cantoria se o preço é ter uma plateia de cadáveres. Uma viola pode ser trocada. Uma vida, não.

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