Vi o  pretinho  que parecia ter uns dez anos , carregava um sorriso do tamanho do mundo,  e no ombro uma enxada. Quando passou por mim  foi logo perguntando, com a eloquência de quem vive nas ruas- A senhora tem algum mato para limpar na sua casa? Faço o serviço bom e baratinho.

Parei para ouvi-lo e o menino reafirmou  que faz pequenos serviços de limpar mato nas portas alheias e com o dinheiro "apurado" compra alimentos para a família que, além do pai e da mãe (grávida) tinha mais 7 crianças, além dele.

Perguntei-lhe da escola e falou está "em férias". Não acreditei em sua vida escolar, apesar de articular bem as palavras.

É um menino preto e como tantos é "obrigado" pelo racismo, insidioso e perverso, que colide com a  pobreza segregadora, a apartar-se da  infância, para ajudar no ganha pão  da família.

Encontrei-o na véspera do Natal pelas ruas da pandêmica  capital turística, com uma enxada nos ombros. O 'Papai Noel" esqueceu do menino.

Triste metáfora cotidiana e naturalizada.

Feliz Natal?