Anin  Urasse que é fonoaudióloga. Tradutora. Pesquisadora autônoma das epistemologias africanas. Atua na tradução de autor@s pret@s e elaboração de livros para o financiamento de grupos pretos autônomos com ação comunitária, escreve:.

 

Desde a última live sobre mulherismo africana que participei, estou bastante pensativa.

Nossa irmã Nini Kemba Nayo, pedagoga,  contadora de histórias e pesquisadora afrocêntrica falou sobre mulherismo africana e literatura infantil.

Ao analisar os livros infantis com o protagonismo de crianças pretas, o que se observa? São livros majoritariamente voltados para MENINAS, onde elas são apresentadas SOZINHAS com empoderamento pela ESTÉTICA. Essa reflexão foi partilhada por ela, que faz um trabalho de muitos anos com literatura infantil para crianças pretas, e eu fiquei realmente angustiada.  

Entende quando a gente fala que não adianta antirracismo sem base africana?

Na prática, as personagens são, majoritariamente, ocidentais de pele escura. Sem família, desligadas da natureza, sem mais velhos, sem coleguinhas meninas e MENINOS, sem seus ancestrais, sem seus mitos... Livros "antirracistas" muitas vezes produzidos por pretos. Uma tragédia!  

Antes não tinha criança preta em livro.

Depois passou a ter criança preta de forma estereotipada ou reforçando o mito da democracia racial.

Agora tem, mas essa criança é uma ocidental de pele escura. Sem coco, sem jongo, sem maracatu, sem macumba, sem samba de roda. Sem África, sem caruru, sem paó, sem kimbundu...  

Nini deu o exemplo de alguns livros que fogem a essa lógica, e eu vou indicar que vocês acompanhem o trabalho dela e saibam mais.

Porque não adianta consciência preta com subjetividade branca.

Porque existe um branco dentro da gente que a precisa matar.

Porque nessa de enegrecer a europa quem se branqueia somos nós.  

Na imagem, a animação de uma cantiga infantil africana muito conhecida: Olele moliba makasi!

É necessário matar o branco dentro de nós, para não deixá-lo nascer em nossas crianças!

 

Fonte: Anin Urase