Em dois meses, cerca de mil pessoas já procuraram Centro Especializado para o tratamento de sequelas da Covid-19

19/10/2020 06:17 - Saúde
Por Alícia Flores* e Tiago Logan*
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A Covid-19 já atingiu mais de 89 mil casos em Alagoas e o número de óbitos já ultrapassa dois mil. No entanto, médicos e profissionais de saúde agora se preocupam com outra dimensão da doença: as diversas sequelas que podem surgir após a recuperação.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, desde a inauguração do Centro de Especialidades Eliane Machado, no dia 13 de agosto, já foram agendados 927 atendimentos, o que significa uma média diária de 30 pacientes que buscaram o serviço, apenas na rede pública da capital.

Ao CadaMinuto, a infectologista e gerente médica do Hospital da Mulher, Sarah Dominique, falou que as sequelas que a Covid-19 deixa dependem, principalmente, da gravidade com que a doença se apresentou em cada caso.

“Se a pessoa teve a Covid-19 num estágio avançado, ela pode ter um comprometimento dos pulmões que normalmente chega a 75%. Em alguns casos, acima dos 50%, pode até acarretar em cansaço respiratório. Outros sintomas muito comuns, que partem do sistema nervoso central, são a anosmia (perda total do olfato) e a ageusia (perda total do paladar)”, explicou.

 

Além do sistema respiratório

A terapeuta ocupacional Eudilane Lunelli contou que, a princípio, quando a doença surgiu na China, os especialistas pensavam que o vírus afetava apenas o sistema respiratório. Com o avanço da pandemia, observaram que ele também causa alterações neurológicas e sistêmicas. 

Algumas das sequelas deixadas pelo novo coronavírus também envolvem Acidente Vascular Cerebral (AVC), epilepsia, falta de coordenação motora, perda de olfato e paladar, ataxias e, em casos raros, até mesmo a síndrome de Guillain Barré, comum em casos de zikavirus e chikungunya.

“Há casos em que o paciente tem sintomas mais leves, como desconforto gripal ou febre, mas que passam rápido. No entanto, essas mesmas pessoas podem, sim, vir a desenvolver outras condições por causa da Covid-19, mas como tudo ainda é muito novo, tem muita coisa sendo investigada”, pontuou a terapeuta ocupacional. 

Sobre o AVC, Eudilane reforçou que, devido às complicações a nível motor e cognitivo, é essencial que esses pacientes se submetam a um trabalho de recapacitação com o suporte de uma equipe multidisciplinar, para que haja uma recuperação completa.

De acordo com a profissional, os centros de reabilitação do estado precisam se preparar para atender não só os pacientes que estão em recuperação da Covid-19, mas também novos casos de doenças associadas, também, às más condições de trabalho durante o período de home office e aos traumas gerados pela pandemia.

“A gente não sabe definir se o sistema público de saúde terá capacidade suficiente para receber todas essas pessoas. Após quase oito meses de quarentena, agora que os locais de reabilitação começaram a abrir. E agora, além das inúmeras demandas, a gente também precisará ter um atendimento limitado, por causa da necessidade do distanciamento social”, destacou a terapeuta ocupacional.

Eudilane Lunelli explica como é feita a reabilitação da Covid-19 e como conseguir assistência. Foto: Tiago Logan / CadaMinuto

 

Estigma
Após sofrer um AVC isquêmico, Cláudia (nome fictício para preservar a integridade da entrevistada), de 72 anos, disse que descobriu no hospital que já havia tido Covid-19 e foi assintomática durante o tempo de doença. 

Depois do acidente, ela ficou com uma hemiparesia, ou seja, o lado direito do corpo paralisado. Agora, durante o processo de reabilitação está tendo o apoio de uma equipe multidisciplinar para tratar as sequelas que ficaram após o AVC. 

Com o auxílio de profissionais como fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo, Cláudia recebe a equipe duas vezes por semana em sua casa para tratar as sequelas, que envolvem a alteração da percepção, lapsos de memória e a afasia de expressão. 

“Ainda há muito preconceito, não é? É uma doença que se tornou, de certa forma, comum, mas ainda existe esse estigma com quem foi infectado pelo coronavírus”, disse.

 

Buscando ajuda

De acordo com orientações da SMS, ao receber alta hospitalar, o paciente com sequelas deve procurar a rede do SUS para receber assistência. 

O Centro de Especialidades Eliane Machado, localizado próximo ao PAM Salgadinho, no bairro do Poço, disponibiliza uma equipe multidisciplinar formada por vários profissionais da saúde, para atendimento às pessoas que tiveram complicações após contraírem o novo coronavírus e também outras síndromes gripais. 

A infectologista Sarah Dominique recomenda que, caso o paciente apresente alguma das complicações relacionadas à Covid-19, pode procurar também a Central de Triagem vinculada ao Hospital Geral do Estado (HGE), localizada no Ginásio do Sesi, e a Unidade de Urgência para Síndromes Gripais Iza Castro, em Arapiraca, instalada no Ginásio João Paulo II.

O serviço também está disponível nas Unidades de Pronto Atendimento e, quando houver a necessidade de hospitalização na capital, os pacientes serão encaminhados para o Hospital da Mulher Dr.ª Nise da Silveira, Hospital Metropolitano ou Hospital Geral do Estado.

 

Veja a entrevista:

 

 

*Estagiários sob a supervisão da editoria

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