A morte da cantora Preta Gil, aos 50 anos, em decorrência de um câncer colorretal despertou nos brasileiros a curiosidade em entender a doença e reforçou a importância do diagnóstico precoce.

Preta foi diagnosticada com a doença em janeiro de 2023 e após concluir o tratamento, em 2024, descobriu uma metástase — quando o tumor se espalha para outros órgãos. A cantora iniciou uma luta intensa contra a doença e, após esgotar todas as possibilidades de tratamento no Brasil, foi para os EUA para realizar um tratamento experimental, mas faleceu no último domingo (20), em Nova York.

O câncer colorretal é o terceiro tipo mais letal no Brasil e tem incidência crescente. Segundo o IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), os casos aumentaram mais de 80% entre 2015 e 2023. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima mais de 45 mil novos diagnósticos por ano até 2025.

Ainda segundo estimativa do Inca, pelo menos 430 pessoas devem receber diagnóstico de câncer colorretal em Alagoas, até o fim de 2025. Deste total, 210 pacientes são do sexo masculino e 220 do sexo feminino.

Em 2023, 159 pessoas em Alagoas morreram em decorrência do câncer de cólon e reto (67 homens e 92 mulheres), segundo o Inca, que realiza a pesquisa a cada triênio. 

A mesma pesquisa aponta que o número de novos casos de câncer colorretal estimados para o Brasil, para cada ano do triênio, é de 45.630 (23.660 em mulheres e 21.970 em homens).

A colonoscopia é o exame chamado de "padrão ouro" para diagnosticar a doença, pois permite que o médico veja todo o intestino e verifique se há alguma lesão, por meio da inserção de uma cânula com uma câmera pelo ânus. Em caso positivo, um eventual ou eventuais pólipos são removidos. O Sistema único de Saúde (SUS) oferece a colonoscopia e, quanto mais rápido o diagnóstico, maior a chances de cura.

Em entrevista ao CadaMinuto, o coloproctologista Guy Gama de Carvalho fala sobre sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção. O médico também esclarece sobre a relação genética da doença e diz que a alimentação é um dos fatores para o diagnóstico positivo em pessoas mais jovens.

 

O coloproctologista Guy Gama de Carvalho / Foto: Arquivo Pessoal

 

 

Confira a entrevista:

O que é e como se dá o câncer de colorretal?

O câncer colorretal ocorre na grande maioria das vezes pelo surgimento de uma lesão benigna (o pólipo) que pode aparecer no intestino grosso com o passar dos anos, geralmente a partir dos 45 anos. Esse pólipo (ou pólipos) podem crescer com o tempo e sofrer uma degeneração para doença maligna, que é o câncer colorretal.

Quais os sintomas?

Os sintomas na grande maioria das vezes são a alteração do hábito do intestino (aumento ou redução progressiva do número de evacuações por dia, sendo mais comum diarreia se ocorrer no lado direito do intestino ou constipação se ocorrer no lado esquerdo do intestino, com afilamento das fezes), sangramento nas evacuações, dores abdominais e perda de peso.

De que forma é feito o diagnóstico?

O diagnóstico pode ser feito inicialmente no próprio consultório com o exame loca, anuscopia, no caso do câncer de reto e canal anal, e depois encaminhado para fazer biópsia, para confirmação, ou durante o exame de colonoscopia, com realização de biópsias, que é o exame padrão ouro para o diagnóstico.

Há relação genética? 

Sim, o câncer colorretal tem fator genético muito forte no aparecimento, quando há parentes de primeiro grau (pai, mãe ou irmãos com a doença). A idade para se começar a investigação em pessoas sem sintomas é aos 45 anos, com a realização do primeiro exame de colonoscopia ou, a critério médico, em idades menores a depender dos sintomas que a pessoa venha a apresentar, mesmo em idades menores.

A causa do câncer de colorretal entre pessoas mais jovens, cuja ocorrência tem amentado nos últimos anos, está de fato relacionada à alimentação? Existem outros fatores?

Sim, a alimentação pobre em líquidos e fibras alimentares, associada a alto consumo de carne e alimentos industrializados está bem relacionada ao aparecimento de pólipos no intestino e futuramente câncer. Existem outros fatores de risco também como o tabagismo, obesidade, sedentarismo e o fator genético e familiar.

Quais as medidas recomendadas para prevenir a doença?

Ter hábitos de vida saudáveis, com dieta rica em líquidos e fibras, alimentação com alimentos frescos e sem conservantes, exercício físico e controle do stress. Além de, aos 45 anos, procurar um médico gastroenterologista ou coloproctologista para realizar o primeiro exame de colonoscopia como rastreamento e prevenção.

Como é o tratamento? Quais as chances de cura?

O tratamento varia de acordo com a localização do câncer colorretal e a extensão da doença no corpo, podendo ser cirúrgico apenas ou cirurgia associada a outros tratamentos oncológicos (quimioterapia, radioterapia e imunoterapia). As chances de cura são muito altas, desde que diagnosticado em fase inicial, podendo chegar a mais de 90%.

Câncer colorretal ocorre pelo surgimento de pólipos / Foto: Reprodução