Sim, eu sei o que é fome,mas,sei também que há no mundo, gente que alimenta nossa alma, com gentileza e cumplicidade.

06/10/2020 09:10 - Raízes da África
Por redação
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No começo da juventude,me fiz ousada,  larguei a proteção familiar e me joguei para o universo das descobertas, (liberdade onde estás, que não respondes?)  

Já era professora concursada, salário bem pequenino, do tamanho de um botão e muitas responsabilidades batendo à porta,( aluguel, transporte, alimentação) e o dinheiro não rendia de jeito nenhum. Com isso,  minha situação financeira entrou em colapso. Passei fome, daquelas que o estômago cola nas costas.

Meu guarda roupa   se resumia a  algumas peças mínimas e uma  única calça comprida, que estava rasgada entre as pernas.

E, eu leonina digna e orgulhosa,  fazia pose de redes sociais, cuidando de todas as formas, para esconder os rasgões nas roupas e n'alma minha.   

Um dia, como outro qualquer,  Daysianne Farias Jordão , uma amiga querida, professora  e companheira de jornada na educação, toda patricinha e branca (risos) prestou atenção em minhas  dificuldades e, muito discretamente,    passou no quarto  em que eu morava de aluguel e deixou uns dinheirinhos, por baixo da porta.

Esse fato tem bem uns 30 anos e não sei por onde anda Daysianne. Confesso que nunca  esqueci seu gesto de partilha e cumplicidade.

Um gesto que suavizou, humanizou, um pouco  a caminhada do crescer, no mundo segregado do racismo, da exclusão cotidiana. 

Minha   querida Dayse foi/é  uma pessoa especial que o Universo me deu de presente.

Sim, eu sei o que é fome,mas, sei também que há no mundo gente que alimenta nossa alma, com gentileza e cumplicidade.

Obrigada, Daysianne!

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