No começo da juventude,me fiz ousada, larguei a proteção familiar e me joguei para o universo das descobertas, (liberdade onde estás, que não respondes?)
Já era professora concursada, salário bem pequenino, do tamanho de um botão e muitas responsabilidades batendo à porta,( aluguel, transporte, alimentação) e o dinheiro não rendia de jeito nenhum. Com isso, minha situação financeira entrou em colapso. Passei fome, daquelas que o estômago cola nas costas.
Meu guarda roupa se resumia a algumas peças mínimas e uma única calça comprida, que estava rasgada entre as pernas.
E, eu leonina digna e orgulhosa, fazia pose de redes sociais, cuidando de todas as formas, para esconder os rasgões nas roupas e n'alma minha.
Um dia, como outro qualquer, Daysianne Farias Jordão , uma amiga querida, professora e companheira de jornada na educação, toda patricinha e branca (risos) prestou atenção em minhas dificuldades e, muito discretamente, passou no quarto em que eu morava de aluguel e deixou uns dinheirinhos, por baixo da porta.
Esse fato tem bem uns 30 anos e não sei por onde anda Daysianne. Confesso que nunca esqueci seu gesto de partilha e cumplicidade.
Um gesto que suavizou, humanizou, um pouco a caminhada do crescer, no mundo segregado do racismo, da exclusão cotidiana.
Minha querida Dayse foi/é uma pessoa especial que o Universo me deu de presente.
Sim, eu sei o que é fome,mas, sei também que há no mundo gente que alimenta nossa alma, com gentileza e cumplicidade.
Obrigada, Daysianne!