Senador Rodrigo Cunha, o cacique autoritário

04/09/2020 00:55 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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O tucano Rodrigo Cunha vendeu a imagem de “renovação na política”. Nos últimos anos, os acontecimentos na vida pública brasileira pavimentaram o terreno para esse discurso – que na verdade é tão velho quanto a política. Mas, ainda que não passe de fumaça, elegeu figuras como Cunha. Digo isso, claro, diante da ação do senador pra cima do diretório municipal do PSDB. Como um velho coronel, que trata o partido como propriedade privada, o parlamentar, na condição de presidente do diretório estadual, dissolveu a instância partidária de Maceió. E foi numa canetada, sem consultar ninguém.

Em nota, o senador alega o descumprimento de regras na reunião que elegeu a deputada federal Tereza Nelma como presidente do diretório municipal. Não colou. O texto da cúpula da legenda não deixa claro o que haveria de errado na escolha dos dirigentes do PSDB na capital. Na prática, deu-se o seguinte: Cunha decidiu abater uma concorrente interna pelo protagonismo na eleição para prefeito de Maceió. Sinais de vale-tudo.

Como o CM publicou, a deputada reagiu com uma nota duríssima. Diz um trecho: A decisão isolada do senador Rodrigo Cunha transpira autoritarismo, viola a diretriz central do Estatuto do PSDB, que estabelece claramente o compromisso com a transparência, a democracia interna e o direito de defesa. Chamo atenção para o óbvio: é uma crítica de uma colega de partido e não de um adversário filiado a outro time. A crise está dentro de casa.

Além de classificar o senador como autoritário, a deputada, que também se manifestou por meio de nota, aponta, não sem alguma ironia, para a contradição entre discurso e prática: Em verdade, o senador violou diretamente o Estatuto do PSDB, tomou uma decisão autoritária típica da Velha Política. Nunca deu aos integrantes do Diretório Municipal o constitucional direito de esclarecimento, contraditório e ampla defesa”.

Ao se eleger senador em 2018, Rodrigo Cunha subiu de patamar. Tornou-se presidente do PSDB em Alagoas e rapidamente imprimiu seu estilo de gestão. Estilo que resultou na implosão do partido, cuja ilustração mais notória foi a desfiliação do prefeito Rui Palmeira. A truculência do cacique deve resultar na saída da própria Tereza Nelma. Por essas e outras, o tucanato vai sem rumo por aqui, depois de governar o estado por oito anos.

Falei de protagonismo da eleição em Maceió. Não é de hoje, o senador tucano fechou parceria com o deputado federal João Henrique Caldas, do PSB. A dobradinha passa pelos acordos que levaram Cunha ao Senado. A mãe do deputado é primeira suplente do senador. Mas isso é um detalhe, ainda que relevante. A dupla pensa alto, com projeções para a repetição da tabelinha em 2022. Antes, porém, os dois precisam ganhar agora em 2020.

Pelo que leio em diferentes espaços, em reportagens e blogs da nossa imprensa, a briga entre Cunha e Nelma deve-se à escolha de um nome para vice na chapa com JHC. Ou seja, além de impor o nome do candidato a prefeito, o senador quer decidir sozinho a chapa completa. Sobre isso, a deputada diz que sua candidata seria uma mulher, mas se submeteria à decisão partidária em convenção. Mas nem isso Cunha cogitou permitir.

Tereza Nelma também acusa Cunha de mentir ao “explicar” as razões para dissolver o diretório tucano na capital. Espantados estão os que enxergam no senador de Arapiraca uma voz na contramão do atraso. Até hoje, sua atuação como parlamentar e suas posições sobre os graves temas do país mostram o contrário. Faltava uma demonstração cabal de seus métodos medievais na burocracia da máquina partidária. Agora não falta mais. 

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