Sra. secretária de educação das Alagoas,muit@s professor@s não tem computador, internet de qualidade e espaço para transformar a casa em sala de aula. Entendeu?

14/08/2020 12:55 - Raízes da África
Por redação
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Carta aberta à Secretária de Educação Laura Souza

 

O prof. Alexandre Ribeiro Emiliano escreve:

 

Tomo a liberdade para falar em nome de todas e de todos os colegas de profissão que partilham das mesmas angústias que eu.

A pandemia de Covid-19 nos pegou de surpresa. "De repente, não mais que repente", passamos a conviver com o medo da morte iminente, com o afastamento das pessoas, com a reclusão, pois, a cada dia perdemos parentes, amigos, conhecidos.  Paralelo ao cenário de morte e de peste, fomos convocados às aulas remotas. Sem preparo, formação, aparelhos, internet etc, iniciamos às apalpadelas. Se havia desespero da nossa parte, havia muito mais por parte dos alunos. "Professor, meu celular não comporta tanto material em Pdf"; "professor, só posso fazer a atividade quando minha mãe chega do trabalho"; professor, só tem um celular pra mim e meus cinco irmãos"; professor, não tenho internet"; "professor, a internet do meu celular só pega quando subo uma serra e fico procurando sinal"; "professor!"; "professor!"; professor!". Os relatos são muitos, Sra Secretaria, acredite.

É bem verdade que pandemia não é culpa de ninguém. Não é culpa do Governo, dos alunos, tampouco nossa,  professoras e professores. Mas, a despeito disso, somos nós que estamos carregando nas costas o peso, a frustração e as angústias da não participação dos 80% dos alunos.

Em sala de aula desempenhamos várias atividades além da nossa. Somos, muitas vezes, pais, psicólogos, conselheiros, nos envolvemos nas problemáticas dos/das estudantes para  conquistá-los. Mas, embora façamos "das tripas coração", sua fala, Sra. Secretária, desqualifica todo nosso trabalho e esforço. A Sra. já parou para pensar que muitos de nós não temos computador, Internet de qualidade e espaço para transformarmos nossa casa em sala de aula? Não somos influenciadores digitais, youtubers, animadores de platéia ou coisa parecida. Somos PROFESSORAS E PROFESSORES. Precisamos de condições dignas de trabalho.

Por falar em falta de condições dignas, estou trabalhando com um computador emprestado. Tive que sair várias vezes em meio à pandemia, colocando minha vida é saúde em risco para elaborar roteiros e atividades na casa de terceiros. Tudo isso para cumprir com meu trabalho, que faço com amor e dedicação, diga-se. Quem garante que não peguei Covid-19 nesse trajeto? Testei  positivo semanas depois.  

Parafraseando um texto bíblico, nem só de amor e dedicação vivem as professoras e os professores. Precisamos de apoio e assistência do Governo do Estado, da Secretaria de Educação.  

Por fim, Sra. Secretária, dirijo-lhe um convite. Venha conhecer as periferias das cidades, de onde saem muitos dos nossos alunos. Venha conhecer a beirada a Lagoa Mundaú, os barracos de lona e papelão. Acompanhe um dia a exploração do trabalho infantil,  os nossos estudantes adolescentes catando sururu. Venha conhecer a realidade dos alunos que vivem e trabalham na zona rural. Ponha os pés na lama, no chão de barro.  

Quando não se tem a dignidade e um lugar para morar ou acesso aos outros direitos garantidos pela Constituição, não sobra dinheiro para comprar celulares, computadores, tablets e internet.

Continuamos ensinando porque, assim como Paulo Freire, comungamos da ideia que  "ensinar exige a convicção de que a mudança é possível".

Respeitosamente, mas transbordando de angústia,

prof. Alexandre Ribeiro Emiliano

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