"Tem muita gente perdida,em depressão. Gente se matando e isso a televisão não mostra"- diz o homem.
Ele me liga bem no comecinho da manhã de quarta-feira. É para dar retornos de algumas interrogações , mas, depois de findas as explicações, se estende em detalhes e desfia palavras.
Geralmente é muito econômico nos diálogos, mas, hoje percebo que em a necessidde de falar e me faço ouvinte atenta.
Confessa que, com a pandemia, está recebendo auxílio social e se angustia pelo depois:
-Auxílio não é para sempre e preciso arrumar algo para fazer,trabalhar.
É um homem calejado pela luta, pelo tempo e as dificuldades cotidianas. Um homem velho.
Fala sobre a covid e como de certa forma ela ajudou os governos a justificarem dificuldades de gestão, hoje e depois.
-Eles ganharam rios de dinheiro e quem peleja é sempre os pobres.
Não está fácil, e, é só mesmo Deus para nos ajudar. Só Ele1- faz repetição da frase-súplica, em um folego só, inúmeras vezes.
Tem muita gente perdida, com as mãos na cabeça e bolsos vazios, sem rumo, sem saber muito para onde ir. Muita gente em depressão e muita gente se matando'.-'Só Deus mesmo para nos ajudar. Só Deus!'
Depois da explosão de palavras, se despede contrito.
O isolamento social internalizou dores, despertou fantasmas.
E daí?
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