Terremoto na República da Lava Jato

29/07/2020 17:55 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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As palavras do procurador-geral da República, Augusto Aras, produziram um novo terremoto político no país. E, longe de ser algo inédito, a parada é mais explosiva porque joga Judiciário e Ministério Público no coração da bagaceira. Outra vez. Em debate com o grupo Prerrogativas, formado por advogados criminalistas, Aras denunciou que a força-tarefa de Curitiba é uma “caixa de segredos”. Ainda segundo ele, os procuradores recolheram dados de mais de 38 mil pessoas – a partir de critérios desconhecidos – para investigação. A ser verdade, estamos diante de um aparato clandestino.

Aras defendeu com todas as letras que é preciso “acabar com o lavajatismo” – o que nada tem a ver com arrefecer no combate à corrupção. Como se sabe, qualquer crítica aos abusos cometidos pela força-tarefa curitibana é logo tachada de leniência com a bandidagem. É uma tática delinquente que os doutores do MPF e seus defensores adotam para desqualificar as acusações. Quem acompanha o blog sabe o que penso sobre os heróis de toga.

O que o procurador-geral fala agora é o que se sabe há muito tempo. As reportagens do Intercept Brasil estão aí para quem quiser constatar o conjunto de barbaridades que os doutores da Lava Jato aprontaram nos processos que levaram adiante. O atropelo de regras elementares está devidamente registrado nas vergonhosas conversas reveladas na “Vaza Jato”. Deltan Dallagnol e sua patota se veem como intocáveis, acima da lei e da Constituição.

Vejam a pose desses elementos na foto que ilustra o texto. É a imitação do cartaz de Os Intocáveis, aquele do agente Eliot Ness. (Aqui em Alagoas há delegados e outras autoridades, fanzocas de Dallagnol e Sergio Moro, que também querem agir sem prestar contas a nada e a ninguém). Investigadores que recorrem ao delito para provar suas teses são tão bandidos quanto o pior dos corruptos. E isso ocorreu, sem dúvida, na Lava Jato.

Por falar em Sergio Moro... Aquele senhor, que era juiz e, ao mesmo tempo, cabo eleitoral de Jair Bolsonaro, foi um dos que reagiram às palavras de Augusto Aras. Premiado com o posto de ministro da Justiça depois de desonrar a magistratura, Moro já anda espalhando que foi “usado” pelo presidente. Segundo sua fábula de ocasião, Bolsonaro nunca quis, de verdade, enfrentar a corrupção. Era tudo falso, uma tremenda ilusão, como se sabe hoje.

Nossa, que surpresa desagradável! Moro se junta ao exército de inocentes cidadãos de bem que “foram enganados” pelo capitão da tortura. De fato, a trajetória de Bolsonaro revela o quanto ele foi um operoso parlamentar das causas nobres. Contem outra! Um medíocre em estado amplo, especialista em tráfico de influência e rachadinha com salário de servidor, o parlamentar do baixo clero é o mesmo que se elegeu presidente. Ninguém enganou ninguém. Isso é apenas, como se diz, a construção de uma narrativa. 

Ao menos nas primeiras horas após as declarações de Augusto Aras, as reações eram de um alarme de tsunami. Na Globo News, vi jornalistas, juristas e políticos decretarem o fim do mundo. Socorro, querem matar a Lava Jato, essa trincheira de ética, essa ilha de perfeições no meio de um país degenerado! Naturalmente isso é tão somente a reafirmação da propaganda – enganosa – que se faz da Lava Jato desde que a operação está na praça.

Nos processos de Curitiba, Moro orientou a acusação, ou seja, fez tabelinha com o MPF. O juizinho parcial também indicou testemunhas para que os garotões do grupo fossem pegar. Com a blindagem da toga, o sujeito tratava o amplo direito de defesa como “showzinho” de advogados. Tá tudo eternizado nos diálogos do Telegram.

As intenções de Augusto Aras não são muito edificantes. Eleito na onda do lavajatismo, Bolsonaro hoje é inimigo da turminha de Curitiba, Sergio Moro no pacote. Por isso escolheu Aras para o cargo, ignorando a eleição da listra tríplice. (É um direito do presidente da República, está na lei, então não contesto). Aras quer uma vaga no STF.

A barulhenta repercussão das críticas feitas pelo chefe do MPF segue a todo volume enquanto vou terminando o texto que você lê agora. Não dá pra saber se haverá alguma consequência prática e imediata. Provavelmente não. Mas pode-se apostar em efeitos a médio prazo, com forte influência nas eleições de 2022. Mais ou menos por aí.

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