Jair Bolsonaro, Arthur Lira e o impeachment

29/07/2020 00:11 - Blog do Celio Gomes
Por redação
Image

O deputado federal Arthur Lira é o candidato do Palácio do Planalto à presidência da Câmara. A eleição é somente no ano que vem, mas a disputa foi precipitada no calor da crise permanente – que se multiplica e ganha novos capítulos a cada semana. O parlamentar do Progressistas se tornou aliado fiel de Jair Bolsonaro, apresentando-se como alternativa ao grupo sob influência do deputado Rodrigo Maia, o atual presidente da Câmara. Ao longo de seu mandato, Maia foi alvo da fúria de Bolsonaro em diversas ocasiões. Para isso, o capitão se valeu daquele troço chamado gabinete do ódio.

A raia mais fanática do bolsonarismo não se cansa de atirar contra o chefe da Câmara. As passeatas que pedem intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF atacam especialmente Rodrigo Maia. Também mais de uma vez, o deputado perdeu a paciência e bateu pesado no comportamento desvairado do presidente que corteja milicianos, torturadores e grupos de extermínio. A relação jamais transcorreu em paz.

Desde o ano passado, Lira vem crescendo no Legislativo brasileiro. Tornou-se líder de seu partido e foi ampliando a influência sobre seus pares. Foi aí que entrou o Centrão. O histórico bloco é dado a coalizões a partir de interesses paroquiais – para recorrer ao eufemismo. Eleito presidente da Casa, Maia soube agregar essa turma que tem peso decisivo nas votações. A certa altura, Lira se arvorou pra cima do bloco e passou a liderar.

O plano do parlamentar de se tornar o comandante da Câmara ganhou com Bolsonaro um cabo eleitoral forte. É verdade que a posição do presidente é também arriscada, ao ligar seu prestígio a uma guerra a ser travada em outro poder. Nos governos Lula e Dilma, ficou claro que esse engajamento do Planalto pode acabar mal.

É evidente o interesse de Bolsonaro na vitória de Lira. Quem estiver à frente da Câmara a partir do começo de 2021 vai atravessar os dois anos finais do mandato presidencial. Pelo que aprontou até agora, toda noite o presidente tem pesadelo com um impeachment. E o que não falta é pedido formal pra que isso seja detonado.

Uma pessoa, somente uma, tem o poder de mandar adiante ou travar para sempre um pedido de impeachment: sim, o presidente da Câmara. Bolsonaro morre de medo que no comando da Casa apareça seu próprio Eduardo Cunha. Como vocês lembram, foi Cunha que levou à tramitação o processo que viria a derrubar Dilma.

Não há esse papo de que a intenção de Bolsonaro é viabilizar Arthur Lira pra facilitar a aprovação de projetos de interesse do país. A fantasia serve para disfarçar o que de fato está em jogo – para Jair e para o nosso alagoano. O acordo é que a Presidência abra o coração cheio de bondades para Lira. Em troca, não ao impeachment, nunca.

O mandachuva do Progressistas não é bobo, longe disso. Tem experiência de sobra depois de ralar em mandatos da vereança e da Assembleia estadual, até partir para Brasília. Mas Rodrigo Maia parece, digamos assim, ter maior capacidade de articulação nas horas decisivas. O grupo do presidente da Câmara não ia ficar sem fazer nada.

E veio a notícia mais barulhenta dos últimos dias no campo das articulações políticas. MDB e DEM (partido de Maia) anunciaram que estão fora do Centrão. Com isso, reequilibram as forças e reduzem o cacife de Arthur Lira. Para não passar recibo do golpe, ele diz agora que isso já estava previsto. Tenta não apelar, ainda, para o ataque.

A foto que ilustra este texto mostra a dupla de parceiros que se formou repentinamente. A imagem desmonta por completo a tese de que Bolsonaro e seu governo rejeitariam qualquer prosa com a “velha política”. A não ser que alguém veja em Lira o suprassumo da vanguarda na vida pública brasileira. Com a palavra, a “nova direita”.

Após a saída de dois grandes partidos do Centrão, Maia se fortalece e reafirma sua influência nos rumos das negociações. No outro lado, Lira sai enfraquecido e precisa se mexer para que a derrota do momento não seja o fim de seu projeto de presidir a Câmara. Com eleições municipais no meio do caminho, a ver os próximos lances.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..