Tormenta brasileira: as incríveis histórias no livro que resume o governo Bolsonaro

26/07/2020 17:21 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Em mais um ataque de nervos, desatinado e sem rumo na vida, Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente da República, desaparece sem dar explicações. O pai precisa recorrer aos amigos do rapaz pra tentar localizá-lo. Decorridos muitos dias e muitas noites, ele reaparece – como se esse comportamento fosse o mais tranquilo do mundo. O vereador carioca é o herdeiro mais problemático no clã Bolsonaro. Não vive um dia sem emitir sinais típicos de uma mente à espera de socorro. A ligação entre Carlos e Jair não é coisa para amadores na mesa do bar ou no Twitter. É caso para a ciência.

Os sumiços de Carluxo, como é mais conhecido na sua turma, embora deixem o pai aos pandarecos, fazem parte do lado mais folclórico na rotina presidencial e do governo. Ainda assim, não foram poucas as vezes em que as estripulias do vereador, por meio de ofensas a adversários e aliados, abriram crises políticas e criaram tensão com as instituições. Desde o primeiro dia de mandato, Bolsonaro e o Zero Dois enlouquecem um ao outro.

O vice-presidente Hamilton Mourão e o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, vivem entre o céu e o inferno na relação com o presidente. Mourão apanhou muito mais até agora, sobretudo dos filhos de Bolsonaro, mas também do próprio dono da faixa. Na surdina, o tratamento é na base de palavrões – algo que não ficaria bem reproduzir aqui. Heleno, sem paciência, já chamou Bolsonaro de “despreparado”.

Ele nega o disparo retórico que deixou o presidente furioso. Quem banca a informação é a jornalista Thaís Oyama, no livro Tormenta, que mostra um balanço do primeiro ano de mandato. O subtítulo – O Governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos – resume o cardápio que virá. É jornalismo a quente, em cima dos fatos.

O presidente que emerge das páginas confirma o tipo de gente que hoje manda no país. Bolsonaro vive em clima de paranoia, com medo de ser envenenado ou até de ser alvo de drones e atiradores. Toma decisões de modo improvisado para, logo depois, sem base na lógica, recuar do que acabara de decidir. Um barco à deriva.

A jornalista expõe os bastidores de momentos tensos com os então ministros Sergio Moro, Santos Cruz e Gustavo Bebiano (morto em março deste ano). O livro revela que Bolsonaro decidiu demitir Moro ainda em agosto do ano passado. O motivo era a postura do ministro no caso das rachadinhas de Flávio Bolsonaro, o filho Zero Um. 

Moro sobreviveu ali, depois que Heleno, em conversa dura com o presidente, apelou à retórica dramática: Se demitir o Moro, seu governo acaba. Foi um adiamento. O ex-juiz da Lava Jato foi forçado a se demitir em abril passado. Saiu atirando, acusando o chefe de tentar interferir na Polícia Federal movido por interesses ilegítimos.

O amplamente notório caso Queiroz aparece na obra com detalhes que iluminam situações até então nebulosas. Bolsonaro se empenhou de cabeça na tentativa de matar a história na origem. Meteu-se numa trama, cheia de pontas e personagens, para proteger o que realmente lhe interessa: a própria família. O resto é o governo.

O namoro entre Bolsonaro e o Centrão, hoje na pauta diária da imprensa, já estava engatilhado desde os primeiros meses de gestão. O que levou o presidente em definitivo aos braços dos patriotas de centro foi justamente o medo das investigações sobre os esquemas familiares, com Queiroz no meio. É o curso natural das coisas.

Numa reunião com deputados do PSL, ao cravar um acordo sobre aquela história do Coaf e do Banco Central, Bolsonaro viu a deputada Carla Zambelli cair num choro incontrolável. Ela e outros se sentiam traídos pelo casamento entre governo e Centrão. A tropa de choque cobrou o compromisso “sagrado” sobre a nova política.

Escreve Thaís Oyama: Bolsonaro não cedeu à velha política de uma vez: curvou-se a ela aos pouquinhos. Mas não apenas no caso Queiroz. O presidente recorre aos mais baixos expedientes para obter o que deseja. O livro tem muito mais – com destaque para as estranhas relações do capitão com Dias Toffoli, presidente do STF.

Quando o livro saiu, Bolsonaro veio a público despejar sua diplomacia sobre a autora. Recorreu à misoginia e fez piada com as origens familiares da jornalista. Sinal de que há informações relevantes para o leitor. Redatora-chefe da Veja até 2018, Thaís Oiama escreve com precisão e sobriedade. Sem firula, acerta no alvo.

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