O perigoso cargo de secretário de Saúde

24/07/2020 01:36 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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No ano passado, o jornalista Thomas Traumann lançou O Pior Emprego do Mundo, livro em que narra a extraordinária saga de homens e mulheres que ocuparam o cargo de ministro da Fazenda no governo brasileiro. Na obra, o autor afirma: Todo ministro da Fazenda do Brasil dorme com uma espada de Dâmocles sobre a sua cabeça, segura apenas por um fio fino que pode ser rompido a qualquer momento. Aplico a ideia de Traumann ao que se passa com o posto de secretário de Saúde. Este sim, hoje, é um emprego perigosíssimo no país.

Vejam quantas operações policiais já ocorreram desde a explosão da Covid-19. Titulares da Saúde foram acusados de desvios, alguns foram demitidos e houve até prisões. Tudo isso decorre de supostos esquemas para fraudar a aplicação dos recursos destinados ao combate da pandemia. Parece que todo santo dia, alguma nova denúncia vai acabar com a carreira de mais algum secretário Brasil afora. O clima é de tensão – forte e permanente.

Apesar da zoada promovida por algumas figuras em busca de dividendo eleitoral, até agora o governo de Alagoas não engrossou as estatísticas da fraude com a verba da saúde pública. Esperamos que continue assim. No caso da compra de respiradores pelo consórcio dos estados do Nordeste – que se revelou irregular –, o Estado é vítima e não culpado. Sim, a honestidade na condução da coisa pública é uma obrigação, requisito básico em toda área.

Mas, sabe como é, a tentação é um negócio terrível. Por isso, a transparência é regra vital na rotina da gestão pública. Nesse quesito, pelo que sei, o governo tem sido eficaz. Além de todos os dados que qualquer pessoa pode conferir nos canais oficiais pela internet, a secretaria mantém permanente diálogo com o Ministério Público (Estadual e Federal). Tudo é compartilhado com os membros do ente fiscalizador, numa relação sem filtros.      

Na cadeira de secretário estadual de Saúde está o advogado Alexandre Ayres (foto). Foi dele a ideia de fazer conferências semanais com promotores de Justiça e procuradores da República, nas quais expõe todos os dados referentes ao enfretamento da Covid. Nessas reuniões demoradas, Ayres explica as etapas do trabalho, revela números, afasta dúvidas e se submete ao escrutínio do MP. A iniciativa é saudada como exemplo para o país.

A missão já era uma dureza, mas o tamanho do desafio se multiplicou ao infinito depois que veio a pandemia. A nova realidade era um teste de fogo para o titular da pasta. Além de zelar por uma área desde sempre pra lá de complicada, Ayres teve de mostrar a que veio diante do novo inimigo – implacável e imprevisível. Seu desempenho mostra que, até o momento, passou no teste mais difícil que um gestor poderia encarar.

Eis que, no meio da crise sanitária, pintaram rumores de “fritura” pra cima do secretário estadual. Como informou o jornalista Voney Malta, meu colega de blog aqui do lado, servidores estariam inconformados com medidas de ajuste na folha salarial promovidos por Alexandre Ayres. Segundo apurei, o Estado tenta enxugar as despesas, com incentivo à aposentadoria para funcionários com tempo de serviço pra se aposentar. Não há ilegalidade.

Além disso, com as ações sobre a folha, o governo sustenta que abre caminho para concurso público. Essa é, aliás, uma promessa de campanha do governador Renan Filho. Alagoas não realiza concurso na área da Saúde há mais de 15 anos. Não haveria, portanto, perseguição a servidor – como se especula, claro, em aloprados debates de rede social. Então, vejam: em plena guerra contra o coronavírus, tem gente de olho na cadeira de Ayres.

A mínima suspeita sobre qualquer detalhe no trato dos recursos públicos, assim como na gestão como um todo numa secretaria, deve ser fiscalizada com lupa. Mas é crucial separar problemas reais de devaneios produzidos com intenções eleitorais. E claro que, numa hora dessas, maquinar nos bastidores a partir de demandas casuísticas é praticamente crime hediondo. É do jogo político, diga-se, mas continua sendo criminoso.

Não sendo ministro da Fazenda, Alexandre Ayres pode até não estar no pior emprego do mundo. Mas o volume de encrenca a desafiá-lo não é para qualquer um. Até agora, repito, ele passa no teste sem aprontar presepada de nenhuma espécie. É bom que assim seja, afinal para vencer a pandemia é preciso competência e honestidade. Além do mais, estamos tratando da vida de milhões de alagoanos. Que o secretário se mantenha no rumo. 

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