A agonia tucana e a eleição que vem aí

23/07/2020 18:13 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin eram até um dia desses as três figuras mais fortes no tucanato. Não só isso. Também eram, para além de suas filiações políticas, três lideranças de peso, com atuação de alcance nacional. A influência do trio extrapolava, portanto, as demarcações partidárias. Não foi do nada, como é óbvio concluir, que os três já concorreram à Presidência da República (Serra, por duas vezes). Fernando Henrique Cardoso não entra nessa classificação porque, há muito tempo, flutua acima do bem e do mal.

A trágica ironia para os tucanos é que Aécio, Serra e Alckmin vão sendo rifados da vida pública de um jeito que nunca imaginaram – com o carimbo da corrupção. São acusados dos crimes que sempre apontaram nos outros, nos adversários, particularmente na turma do PT. Cada um com sua cruz, os ex-donos da bola na política brasileira vivem agora para tentar escapar de uma cela.

É um desfecho melancólico pra quem parecia livre de aperreações policiais – dessas que estão na imprensa quase todos os dias. Não que eles fossem santos e somente agora tenham capitulado ao mundo dos batedores de carteira. É que ao longo de muitos anos, desde a década de 90 até ontem, a impressão é de que uma blindagem especial garantia o verniz que dava ao PSDB o selo da ética.

Os dois ex-governadores de São Paulo e o ex-governador de Minas Gerais estão enrolados em denúncias da Lava Jato. Mas vamos lembrar: como mostraram as gravações do The Intercept, Sérgio Moro barrou investigação pra cima de FHC. Segundo o ex-juiz – que usou a toga pra fazer politicagem –, os investigadores não deveriam melindrar personalidades que apoiavam a operação. 

Aécio se acabou naquele telefonema com o empresário bandido Joesley Batista. Serra foi flagrado como suposto beneficiário de propina depositada em paraísos fiscais. Alckmin acaba de ser denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção e caixa dois eleitoral. Esses casos, em pauta agora na grande imprensa, estão aí a serviço daquela turminha da Lava Jato, Moro incluído.

Mas a Lava Jato é outro assunto. Devo voltar ao tema depois. Como eu ia dizendo, a quadra é mesmo melancólica para ex-figurões que, depois de tanto poder, hoje têm suas biografias irremediavelmente manchadas. Por isso muita gente já profetiza a morte do PSDB. Claro que não é um processo repentino. Na eleição de 2018, Alckmin não passou nem perto do segundo turno.

Esse talvez tenha sido o sinal mais evidente da decadência brutal que atingiu o partido. A sigla perdeu a condição de alternativa natural ao PT ou a outro eventual polo de ideias. Ignorada por quase cem por cento do eleitorado na disputa de 2018, não se sabe como a legenda pode recuperar protagonismo na parada de 2022. Quem está agitando o ninho com capacidade pra virar o jogo?

Claro que a liderança destinada a salvar a chácara tucana é João Doria, o governador paulista. É o que dizem seus seguidores. Mas, quanto a essa resposta automática, há controvérsias a perder de vista. FHC, lá do alto, contempla a terra desolada, lê uma página de Vargas Llosa e esnoba a elegância fake do governador. E, pra completar, não é de hoje que o ex-presidente acalenta o bom moço Luciano Huck.

Há também, pintando nas quebradas tucanas como um nome de futuro, outro governador. Trata-se de Eduardo Leite, o jovem político que conquistou o eleitorado do Rio Grande do Sul. É uma incógnita. Quem mais? O senador Antônio Anastasia foi derrotado ao disputar o governo de Minas. No parlamento brasileiro, não há um mísero sinal de alguma força com a cara do partido. Assim não dá.

Diante de tudo isso, não vi nenhuma palavra de algum tucano das Alagoas. Por onde anda o ex-senador e ex-governador Teotonio Vilela Filho? O prefeito Rui Palmeira pulou do barco e está sem partido. O senador Rodrigo Cunha também não se manifestou após as notícias de denúncia de corrupção contra Serra e Alckmin. As eleições municipais vão testar a resiliência dessa galera.

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