Lives, golpe militar e “novo normal”: o que a pandemia mudará para sempre?

15/06/2020 04:00 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Segunda-feira, 15 de junho de 2020. A pandemia de Covid-19 vai completar quatro meses no Brasil. O primeiro caso do novo coronavírus no país foi registrado em 26 de fevereiro. Em 20 de março, o governo de Alagoas decretou situação de emergência. Nesse intervalo de tempo, muita coisa mudou. Quase tudo mudou. E, como consequência inescapável, a vida nunca mais será a mesma – na profecia mais recorrente na caótica produção de ideias sobre a crise mundial. Mas não é sobre isso que escreverei agora.

Quer dizer, talvez seja sobre isso mesmo que vou escrever agora. Porque a pandemia parece alterar a realidade minuto a minuto, tudo está contaminado pelo tema único nos debates públicos e nos dramas privados. Da construção civil à cadeia produtiva do teatro, todas as profissões e atividades de sobrevivência humana estão afetadas. E todos os profissionais (uns mais, outros menos) têm medo.

Não sei. A sentença que fecha o parágrafo acima é apenas um chute. Quando foi que toda a imprensa tratou de um único assunto do jeito que faz hoje com a pandemia? Nunca vimos algo nem parecido. Desde o início, se entendeu que os sinais eram de que o estrago seria forte. Um erro. Não houve um estrago. Produzimos um desastre, uma calamidade em escala mundial. O preço é terrível.

E o mais terrível de tudo é o número de mortes. Concordam as maiores autoridades na medicina que muitas vidas poderiam ter sido salvas se o governo brasileiro tivesse adotado medidas com a urgência que a situação exigia. Sem surpresas, o governo Bolsonaro seguiu o padrão que o distingue: boçalidade, ignorância e falsidades de toda ordem para sabotar o combate à crise sem precedentes.

Isolamento social e quarentena. Para muita gente, taí uma combinação de termos já inscrita na categoria das maldições. Alguns têm a pegada meditação, contemplação, zen-budismo, olhar para dentro... Outro grupo (antigamente falava-se “tribo”) ataca de professor de tarefas domésticas. É a “descoberta” da própria casa! Outros atacam de ativistas, a alma aglomerada de raiva e resignação.

Músicos, cantores e poetas fazem música e poesia pelas redes sociais. O negócio tomou dimensões para além do suportável. É a piada que já virou lugar-comum, de tão repetida em todos os canais de comunicação, do papel ao imparável WhatsApp. Não vi quase nada dessa onda. Mas duas lives muito acima da média foram: 1) Wado & Mopho (João Paulo e Dinho Zampier) e 2) André Abujamra.

Eu falei do lugar-comum em que se transformou a piada com a overdose de lives. Mas o clichê imbatível mesmo, aquele que jamais será superado por nenhuma das expressões da hora, é novo normal. Onze entre dez analistas repetem o termo com uma gravidade digna dos melhores canastrões da dramaturgia. Nas divisões formadas estão, de novo, os céticos e os festivos.

As empresas e os negócios reabrem, em diferentes níveis, a depender de cada pedaço do país. As pressões da economia dobram gestores, não importa a ideologia de cada um deles. Chama atenção a insegurança nas decisões tomadas. Prova disso é o recuo que se viu em algumas cidades que, após flexibilizar o isolamento, fecharam tudo outra vez. Mesmo com a ciência, prevalece a incerteza.

Na pátria do negacionismo – sim, somos nós –, é natural que tenhamos chegado ao topo das ocorrências fatais com a pandemia. A presepada bolsonarista terá mais esse legado de morte para julgamento da História. Não fosse, ao que parece, a postura da maioria dos governadores, o quadro seria muito pior. Agora é o desafio da “retomada”, ainda que isso soe estranho diante do panorama.

Novo normal, no Brasil, é você acordar sem saber se os tanques estarão nas ruas. Afinal, temos ou não o perigo de um golpe – com Bolsonaro presidente, como querem os doentes de sua seita? Não há dúvida: é o sonho na cabeça do brucutu, dessa porcaria que suja a Presidência da República. Mas eu não queria perder mais tempo com o capitão da tortura e sua gang. Por isso o texto termina aqui.

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