Minha mãe nasceu nos tempos  ásperos da vida cerzida no ocaso, do papel de embrulho, como embalagem de presente. 
Tempos  imperativos rotulados de ausências e sonhos emparedados.
Tempos que vestiu-se de fortaleza, ao lado do homem-marido, para dar vazão a criação do do balaio transbordante com  nove  filh@s.
"Estudem, para não terminar  na cozinha dos brancos"-dizia às filhas-
Minha mãe não sabia o significado da palavra racismo, mas, respirou para filh@s espaços libertários. 
Traz legado de grandes lutas , dores antigas de mulheres pretas e histórias cheias de profundezas. 
Minha filha é pássaro novo e  reúne os voos em busca do auto-encontro.
É uma menina-mulher que traz a  ousadia de  sair da zona de conforto, da barra da saia da mãe, na reinvenção de  ingredientes no traçar passos para celebrar  a juventude, na construção do ser pessoa.
Minha filha está no aprendizado de fincar raízes, ao promover um olhar mais inteligente sobre o tempo,multiplicando histórias,  respeitando  os tempos das coisas.
É discreta,habilidosa,comedida. Desacelera e reconecta no tempo para aprofundar passos nesse universo de energias ancestrais.
E no meio das duas, e tantas outras mulheres do mundo,  estou eu. 
Filha de uma. Mãe da outra e carregando no lado esquerdo do peito,o menino, Samuel, meu Dêdei, que traduz o garimpo do afeto genuíno.
Identidade.
Representatividade
Celebremos as permissões de vida!