“Mito” versus “Herói” – o conflito que é uma fraude entre Bolsonaro e Sergio Moro

02/05/2020 17:13 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Sergio Moro depõe à Polícia Federal no inquérito que investiga a conduta de Jair Bolsonaro, acusado pelo ex-ministro de tentar interferir justamente nos trabalhos da PF. Segundo Moro, o presidente o pressionava havia séculos para demitir o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Como vocês sabem, a troca acabou ocorrendo mesmo. Moro saiu do governo que ajudou a eleger e agora – dando sequência um tanto inesperada nesse enredo acanalhado – investe contra seu igual, Bolsonaro. Como já escrevi, são dois bandidos.

No ritmo alucinado de confusões políticas que marcam o governo desde a estreia, sem dúvida temos um capítulo de bastante gravidade. É o presidente sendo alvo de uma investigação comandada pelo Supremo Tribunal Federal. O depoimento deste sábado foi determinado pelo ministro Celso de Mello, relator do caso. A tensão predomina na expectativa de um desfecho. O que pode acontecer afinal?

A sombra do impeachment ficará mais pesada se o andamento das investigações deixar exposto, de forma irrefutável, um ato do presidente que caracterize crime de responsabilidade. Vejam que coisa maluca: na verdade, isso, o crime presidencial, já existe de sobra, desde que ele tomou posse. Em cada “polêmica” que se meteu, Bolsonaro praticou bandidagem. Mas falta um componente essencial.

Falta o clima de fim de festa geral. Isso ocorre somente quando a popularidade do mandatário despenca pra valer, ficando ali no máximo em 10%. Com sua seita na casa dos 30% – e sabendo que essa turma é mesmo doente por ele –, Jair Messias vai ficando. E vai ficando assim, cada vez mais degenerado – uma degeneração compartilhada com as áreas mais importantes da máquina pública.

Voltando a Moro. Ele é um pilar de tudo o que temos de pior nos dias de hoje, com Bolsonaro e a gang dos cidadãos de bem. Como juiz, Moro é o exemplo perfeito de tudo o que um juiz não deve fazer no estrito cumprimento de suas funções. Moro foi um pistoleiro da lei e de todos os códigos. É curioso vê-lo no papel de simples investigado – sem a proteção formal de uma corporação.

Nessa presepada de Moro contra Bolsonaro, voltamos a ver na televisão, ao vivo, a fachada da PF da República de Curitiba, epicentro da Operação Lava Jato. Foi ali, na capital do Paraná, que o ex-presidente Lula esteve preso em decorrência da fraude processual levada a cabo por Sergio Moro. Ali também tivemos o espetáculo diário de embates entre manifestantes petistas e da “nova política”.

Pois também isso voltou a ocorrer no dia do depoimento de Moro à PF em Curitiba. Que coisa! Mas com uma diferença crucial. Desta vez, tivemos a troca de palavrões e tentativa de agressão entre bolsonaristas e moristas. O detalhe é que essas duas falanges eram, até ontem, a mesma coisa, estavam do mesmo lado. São maluquetes e cretinos contra cretinos e maluquetes! Eita Brasil louco!   

Capa da Veja, o ex-ministro da Justiça insinua que tem provas definitivas contra seu ex-chefe. Bem, se suas “provas” forem tão consistentes quanto as que ele arranjou no processo do triplex, Bolsonaro já pode comemorar. A não ser que o STF se porte como fez, no caso Lula, o Tribunal Federal de Porto Alegre. Mas aí temos de lembrar daquele ingrediente todo político. O capitão ainda tem apoio.

O “Mito” versus o “Herói” é o conflito mais fraudulento da paróquia nos tempos de pandemia e quebradeira econômica. O país tem uma tremenda crise para atravessar. Há quem defenda que não estamos nem no meio do caminho na direção da bagaceira maior. Enquanto isso, perdemos tempo com essas duas fraudes, Moro e Bolsonaro. Sem dúvida, estão à altura do pântano que representam.

Chego ao último parágrafo, e Moro ainda está na sede da PF curitibana. Vamos ver o que ele terá dito, e entregue, ao pessoal que investiga sua denúncia contra o presidente. Se não provar o que disse, o especialista em driblar as regras da lei quando “magistrado” pode responder por denunciação caluniosa. Nem sei o que é mais degradante nessa porcalhada toda. A conferir. Na janela.

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